Jovens gostam mesmo de mostrar do que gostam. Rebeldes,
normalmente sem causa, saem por aí jogando na cara da sociedade suas lutas, nem
tão gloriosas assim, para serem compreendidos. Oh tempo bom... para alguns. Outro dia lá no Tanque, liamos
poesia pra saciar nossas mentes e egos sob a sombra misturada com pedaços de
sol. Era domingo e muita gente teve a mesma ideia. Não a de ler poesias, pois
isso seria exigir demais de um povo que, em sua maioria (esmagadora, sejamos
justos), não entende a grandiosidade dos versos. Enfim, a ideia que
algumas dezenas de gentes tiveram foi a de passear no parque. Algo até bonito
de ver, pois o dia estava realmente convidativo. Era um fim de tarde.
Lá pelas tantas, quando discorríamos sobre um texto de
Drummond, um grupo de jovens, amontoados em um carro da moda, com roupas da
moda, tênis de moda e celulares da moda, estacionou bem perto de onde
estávamos.
- Ei, deixa a porta do carro aberta.
Disse uma mocinha, não mais de 18 anos, de franja enorme, um tipo bem comum hoje em dia. O pedido era para uma amiga,
ou colega, afinal, atualmente isso se mistura muito, não se sabe mais o que é coleguismo,
amizade...
A amiga abriu a porta. Mas isso ainda não satisfez o
grupo.
- Levanta o som. E abre a porta de trás também.
Caramba, qual o problema dos jovens? Tão cedo e já com
problemas de audição? Que porcaria é essa? E a nossa poesia já ia ficando
abafada por conta do reggae lá da capital que saía sem dó daquelas caixas de som.
Eu até gosto de reggae. Mas eu gosto muito mais de poesia. Contos e crônicas
também me agradam. E o Drummond é bem melhor que o Dazaranha (mas eu até gosto de Dazaranha, um pouquinho). Será que eles
sabem quem é Carlos Drummond de Andrade? Líamos também Fernando Pessoa. E nessa
hora o coitado devia se revirar no túmulo. É um ultraje ser esmagado pelo som
delituoso dos pequenos revoltosos.
Lá pelas tantas, no meio de uma leitura quase gritada e
ouvida em partes, uma frase destacou-se, e nem sei mais de quem era o texto. “Os
incomodados que se retirem”. Ah vá! Sério mesmo?
Nós chegamos primeiro, cadê a educação desse povo menor
de idade? Mudou a música. O sol foi embora. Mas a galerinha continuou lá, com
os braços de fora e o respeito no porta-malas.
Então, como os nossos apelos em forma de olhares de insatisfação não resolveram,
mudamos para o outro lado do parque. Já era noite. As luzes foram se acendendo. E ainda era possível ver a turma reunida. Mas eles logo se amontoaram de novo dentro do seu carro da
moda, com suas roupas da moda, tênis de moda, reggae (ou seja lá o que for que
estivessem ouvindo naquelas alturas) e foram embora. Fiquei pensando, será que
bons modos vão estar na moda no próximo inverno? E será que os incomodados devem mesmo se retirar, mesmo quando chegam primeiro? É, talvez eu precise de mais poesia e outras brisas sob a sombra. E talvez o mundo precise de mais jovens com ouvidos bons.
2 comentários:
Quando chega sexta-feira e escuto passar um carro com som alto, meio ou totalmente rebaixado, emitindo aquele sertanejo invasivo e irritante, me dá uma espécie de angústia e sinto mais forte o cansaço mental.
Lá vem mais um final de semana, e me angustia o simples convite para almoçar e jantar na casa de um familiar, e ter de recolhir lixo pelos ouvidos durante a tal confraternização.
O pagode caiu um pouco de moda, felizmente. Mas os "piá pançudo" gostam de sertanejo, as patricinhas ouvem reggae, esta praga produzida aqui bem perto.
A música deixou de ser música para se tornar barulho. A música agrada, o barulho irrita.
Eu fico muito irritado quando vejo pessoas que talvez nem tenham terminado o colegial chegarem em seus carrões, ou as vezes, nem tão carrões assim.. (Normalmente vejo carros caindo aos pedaços com som e rodas que valem mais que o próprio veículo), com um barulho ensurdecedor de pagode, sertanejo, reggae e isto que hoje chamam de rock.
Se acham os reis da cocada. Lá em frente a minha casa tem um produtor de barulho infernal aos finais de semana.
Em momentos fico observando e penso, que tipo de prazer uma pessoa assim deve sentir? Eu gosto de som alto, mas o suficiente para eu ouvir sem incomodar os outros.
Esqueceram daquela velha regra. "O meu direito termina, onde começa o do outro".
Mas hoje em dia é assim, pelo menos no Brasil, onde a mídia safada implanta mer... na cabeça do povão, que aplaude de pé e ainda gosta do cheiro.
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