segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Inspira-me


Minha inspiração
És tu, completo retrato de coisas sobre as quais eu escreveria livros
Dedicaria meu tempo a descrever seus temores, seus amores
Não me faltam palavras quando apenas seu nome está na minha mente
Se necessário fosse, meus dias teriam o acréscimo diário das suas poses
E nem seus dissabores escapariam das minhas mãos ávidas por letras
Tu, que nem ao menos recebe o carinho das minhas neuras
Vive em outro mundo, tão regado a tudo que completa o nada
Poderia ao menos sentir sua presença em meus sonhos? Ou seria a minha presença em seus sonhos?
Minha inspiração tão renegada
Por ti seria outra, seria a mesma, ou seria ninguém
Talvez eu fosse também apenas um pedaço de alento
Por ti, ouviria canções sobre o Diabo e sobre o além
Faria piadas sobre o tempo e regaria qualquer tormento
Mas o filme do tempo  seria como a noite em que te senti
Breve inspiração que me leva horas diárias
Eu poderia usar papel, caneta, teclados, por anos, somente para te contar
Contaria como teu sorriso me faz rir
E como a tua ira te mostra humano como eu
E caso fosse necessário usar seus detalhes, me deliciaria reviver o que nunca houve
A espera por tua leitura seria, quem sabe, saboroso como um beijo
Minha inspiração
Já pensei em pedir-te a vida outra vez
Mas que seria de mim?
Como existiria eu?
Sem a poesia que te faz viver em mim?

Meu céu


Pudera eu ser aquela estrela
Que está nos teus desejos noturnos
Viveria na grandeza da luz
Que saltariam dos seus olhos
Seria a única estrela entre milhões
Pela qual tu dedicarias sorrisos
E não haveriam outras tão gigantes
Pois Júpiter viveria como ínfimo
E as noites pouco seriam diante de nós
Viajaríamos pelas galáxias perdidas
E a sombra jamais nos alcançaria
Ah! Pudera eu ser a tua estrela
Terias o brilho que te falta no escuro
E preencheria a minha falta de céu

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Blá blá blá sobre o tempo


se houvesse uma certeza
de que amanhã seria um dia melhor
talvez o hoje fosse mais fácil
do que o ontem que ficou no tempo
mas e se houvesse apenas a ansiedade
para o dia de amanhã
talvez deixássemos de viver hoje
e o ontem seria bem pior
mesmo que o passado não volte
foi onde o futuro começou
portanto, concluo, com a minha ingenuidade
se ontem foi ruim
fazer o hoje melhor
é garantia de um amanhã mais feliz

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Poetando o meu paradoxo


Sou poesia
Há palavras que me definem
Mas nenhuma que me explique
Ouço em forma de versos
Sinto em forma de sonhos
Não sou a santa da vida
Nem o anjo da morte
Sou a poesia
De uma alma que não é minha
Faço da noite pleno dia
E do dia o meu destino
Sou a poesia do amanhã
E vivo do ontem palavreado
Há vírgulas inteiras na minha pele
E infinitos pontos finais
Há rimas que me cercam
E outras que me levam
Sou tão poesia
Que me perco na realidade
Faço da viagem uma história
Faço da cama a memória
Faço do cinema um recado
E da música um finado
Desafino pelas linhas
Da sorte que me fez azarada
Busco um sim no impossível
Encontro as letras imprevisíveis
Palavras, palavras
Que me são poesia
Que me recitam a vida



Perdoa-me outra vez


Perdoa-me as impurezas
Toscas partes de mim
Desanexadas do meu interior
Que fragilizam minha aura

Perdoa-me os enroscos
Tolos momentos de ateísmo
Revoluções de fome irrestrita
Que anunciam uma cicatriz futura

Perdoa-me que eu seja eu
Como uma nobre sem causa
Como uma saída ao nada
Buscando a brisa do sim

Perdoa-me a indiferença
Nesses dias tão chuvosos
Nesses ares melancólicos                   
Sendo um resto do fim

Perdoa-me


perdoa-me
perdoa-me pela minha falta de perdão
meu coração não aceita a tua ausência
e minha razão não entende o desencontro

perdoa-me
por não fazer jus ao seu perdão
meu coração é feito de sangue latente
minha razão é feita de resquícios de altivez

o perdão tem valor tão robusto
há uma desprivilégio dele para comigo
é impossível compreender as escolhas
quando não se existe dentro delas

não me evocam os ensejos do perdão
são apenas fagulhas que respingam
por entre os poros abertos, cobertos
com o mais vermelho dos desprazeres

sua partida levou meus desatinos
houve um afeto rasgado na estrada
foi-se um pouco de mim
tu ficou, entre a luz e a solidão

perdoa-me
por não saber perdoar-te à vida

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Meditação


Rezei
Assim meio sem rezar
Pra que as palavras viessem
Dessem forma às vontades
Desse peito inconformado


Pedi
Pedi meio sem pedir
Para os deuses dos poemas
Que mostrassem num minuto
Uma forma de beleza feia


Ah! Letras inconstantes
Que atormentam a minha calma
E me deixam feito um fantasma
Vagando pelos dedos que só dormem


Acabei sem um tanto de carinho
E meus ouvidos não mais queriam
Os sussurros da fraqueza insana
Buscavam os gritos da esperança


É um fardo sem tamanho
Ter um terço de inscontância
Nesse mundo de alternância
Entre vida e morte palpitando


Não são rimas que me cercam
São ensejos de alicerces
Que ainda pendem boquiabertos
No planeta dicionário


Ainda rezo em sentimentos
Ainda peço um desfecho
Talvez a força seja pouca
Mas minha poesia não desiste




PS: O texto acima pode ser lido também na Revista Click do mês de agosto. Obrigada pelo convite Edson Marcondes!