quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ausência

Estava eu pensando nas várias formas de ausência que tenho em mim. Ausência de paz. Ausência de luz. Ausência de cores. Ausência de saudade. Solidão. Ilusão. São tantas ausências. Me perguntava, o que é ausência? Então, eis que Carlos Drummond de Andrade me respondeu:
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Migalha

Um som que não se ouve A brisa que não se sente A luz que não se vê Emaranhado de coisas inúteis Cercam, acobertam Testam a paciência Depredação lenta da alma De migalha em migalha Resta só uma migalha de gente Do que fomos, um dia Do hoje que já foi Das coisas não vistas Não sentidas, não tocadas Do canto que não se ouviu Migalhas, pequenas e muitas Tão grande migalha Uma por dia se vai Talvez duas ou mais Pequena migalha da vida É o que restará Ainda há tempo de recuperar nossas migalhas Sempre há tempo

sábado, 23 de maio de 2009

Os fins e os meios

Um guerreiro sabe que os fins não justificam os meios. Porque não existem fins; existem apenas os meios. A vida o carrega do desconhecido para o desconhecido. Cada minuto está revestido deste apaixonante mistério: o guerreiro não sabe de onde veio, nem para onde vai. Mas sabe que não está aqui por acaso. E se alegra com a surpresa, encanta-se com paisagens que não conhece. Muitas vezes sente medo, mas isto é normal em um guerreiro. Se ele pensar apenas na meta, não conseguirá prestar atenção aos sinais do caminho. Se concentrar-se em apenas uma pergunta, perderá várias respostas que estão ao seu lado. Por isso o guerreiro confia, e se entrega.
(Texto extraído do blog de Paulo Coelho na Globo.com - postado em 15/05)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Tu e eu

O COMEÇO Era verão. Fim de tarde. A conversa fluía feliz. Os olhares sempre se cruzando deixavam transparecer uma vontade que ambos sentiam, mas não falavam. Entre palavras e frases sobre a rotina, aproximavam-se. Era um tal de esbarra aqui, encosta ali. Os sorrisos ora tímidos, ora frouxos, cada vez mais deixavam a proximidade acontecer. Quando há magia, as coisas acontecem, sem que se perceba. Havia muita magia lá. Havia muita vontade lá. A casa ficava numa rua calma, e isso ajudou. Os últimos raios de sol iluminavam o dia que estava acabando. Algumas pessoas passavam e, percebendo a magia ansiosa que cercava os dois, iam-se. Todos sabiam. Poucos falavam. Depois todos souberam e, sem querer, testemunharam uma história de cumplicidade acontecer. Quando ela estava prestes a ir, ele a beijou. Um beijo roubado, do jeito que ela queria. Foi demorado, foi quente. Mas foi principalmente, forte. Foi o primeiro de muitos. Foi o beijo do começo de uma vida. O carinho aconteceu ali, e jurou ser eterno. PROMESSA Um beijo selou uma amizade vívida. Leal. É por ela que até hoje eles vivem. Prometeram juntos ficarem pra sempre. E cumprem. Depois daquele beijo tão esperado. Uniram-se. A distância nunca ultrapassa alguns dias e já parece uma eternidade. Como qualquer casal eles brigam. Sofrem. Erram. E como erram. As vezes perdem-se. As vezes pensam em desistir. As vezes praticamente desistem. Mas não conseguem. Há sempre uma esperança. Há sempre o carinho. Há sempre o amor. Não são eles exemplos. Nem são corretos. São apenas humanos que caem, se levantam e seguem. Mas sempre juntos. Sempre apoiando-se um ao outro. É como se estivessem ligados há muito mais tempo do que na verdade estão. Choram juntos. Sorriem juntos. E se abraçam com tanta vontade, que todo o resto parece ser só o resto. Isso é cumplicidade. E assim seguindo, aprenderam a se proteger. Um ao outro e dos outros. São invejados. São alvejados. Mas a promessa continua sendo cumprida: juntos, sempre, pra sempre. ROTINA Casar não é fácil. Dividir é muito difícil. Casar é invadir, ser invadido. É esquecer a privacidade. É mostrar fraquezas. Mostrar defesas. É brigar, ignorar, partilhar, perdoar quase que diariamente. Casar é para fortes. Fracos desistem no meio do caminho. Eles, ainda são fortes. Ainda se abraçam enquanto dormem e dão beijo de bom dia. Ainda perdem a paciência e se reconciliam com afagos. Há muitos contras. Há poucos prós. E sim, vale a pena. Equilíbrio é para poucos. Sinceridade é pra todos. É preciso saber perdoar. É preciso saber cuidar. É preciso saber tocar. Rotina é difícil, quase impossível. Mas ainda bem que vivemos um dia após o outro, e entre cada um existe uma noite. É quando os corpos se acolhem, se perdoam, se amam.

PARA VOCÊ!

Amor meu... Reconheço que não sou perfeita como você merece. Reconheço que não sou tão apaixonante quanto a mulher que você gostaria que eu fosse. Talvez eu não seja paciente. Nem tampouco tranqüila. Não gosto de ser dona-de-casa, nem de cozinhar. Mas eu gosto de você. Escolhi você porque você conquistou a minha confiança e meu amor. Escolhi você porque você me escolheu como a mulher da sua vida. Dia após dia te admiro. Obrigada por estar comigo. Perdoe-me por não ser ideal. Ainda cumpro nossa promessa e acordar todos os dias ao seu lado é confortante! Nunca esqueci, nem esquecerei nossa história e estarei sempre pensando em continuá-la com muito carinho. O mesmo carinho que você me dá todos os dias e que enche meu ego de emoção.

Feliz Aniversário!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Conclusões de uma confusa

Porque estamos sempre procurando o impossível? Talvez nem tão impossível, mas longe do nosso alcance, difícil de conseguir, ter, e até mesmo sentir? Passamos tanto tempo nos ocupando com coisas descartáveis, acabamos esquecendo do que e de quem temos. Passamos horas imaginando o que gostaríamos de ter, imaginando alguém ideal. Um namorado, marido ideal. Um amigo ideal. Um colega de trabalho ideal. Mas o que é ideal? Por que é ideal? Mal sabemos o que queremos de verdade, nos confundimos com besteiras. Esquecemos do que realmente importa. Acordamos todas as manhãs e vivemos. É isso. É assim pra todos. Vamos ao trabalho. Vemos pessoas. Nós vivemos assim, dia após dia, mas acabamos sempre esperando por algo, por alguém. E mesmo que o que esperamos aconteça, não podemos esquecer que hoje, acontece só hoje. Acordar é bom. Viver é bom. Temos e precisamos viver de verdade. É difícil se dar conta. É difícil perceber que a vida passa. Ela realmente passa. O tempo passa. As pessoas vão. Os momentos vão. Mas outros virão. O tempo não para. Só vai parar quando morrermos. Mas de que adianta viver pensando no futuro sem pensar no presente. Isso talvez já seja um pouco de morte.

Intensamente. É assim que precisamos viver. Cada minuto é único. Cada pessoa é única. Cada vida é única. Sim, somos humanos, imperfeitos. E isso não vai mudar nosso jeito de ser, de buscar aquilo que acreditamos que nos fará mais felizes, mais e mais e mais. Talvez o único problema nisso tudo seja realmente e sempre, esquecermos de quem somos hoje, do que vivemos hoje e do que temos hoje. Buscamos por mudanças, mas não mudamos. Nos acomodamos com o presente esperando por um futuro diferente, e na verdade, nada será diferente no futuro se não começarmos a mudar hoje. É difícil sim, tanto que mesmo sabendo disso, eu e muitas outras pessoas acordar amanhã e continuar agindo dessa maneira, esperando pelo futuro sem mudar o presente.

Mas eu quero mudar, sei que há muitos que querem. E assim seguimos, continuamos tentando. E isso não é impossível como tantas outras coisas que almejamos. Não é impossível mudar. Não é impossível conseguir. Podemos conseguir e mudar e ser aquilo que queremos ser. Não é impossível dizer que amamos. Nem impossível dizer que perdoamos. É preciso aprender com os erros. Ter coragem pra aceitar os defeitos dos outros, mas principalmente os nossos.

Na verdade, não existem fórmulas certas. Nada é tão certo quanto a realidade. Então vivamos a realidade. Sejamos corajosos e aceitemos defeitos. Assim como devemos aceitar as pessoas como elas são. Ser cobrado é ruim, cobrar os outros é ruim. Não é impossível acordar todos os dias, e viver cada dia. Não é impossível olhar pra frente sem esquecer do hoje. Não é impossível sermos quem devemos ser, sermos o que somos. Não é impossível ser feliz. Sejamos felizes. Sejamos corajosos!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Começo

Numa noite sem estrelas

Aqueles olhos vieram

Foram luz, foram ar

Como vento, arco-íris

Um toque, um olá

Uma chance, um beijo

Um talvez, um pra sempre

Ainda hoje ela lembra

Há dias sem cor

Há dias cheio delas

Há flores, há folhas

Há dias em que nada há

Mas quando se tocam

Há tudo em nada

E isso, por si, basta.

sábado, 9 de maio de 2009

Minha mãe - Margarida

Os anos passaram e mesmo assim não esqueço. Quando as dores me percorrem o corpo, é pra ela que quero correr. Minha mãe é assim, carinho contido, mas medido de um jeito que sinto e sempre acaba por me curar. Suas mãos parecem conter todos os medicamentos do mundo, seus olhos acalmam meu coração e então, a dor parece só mais uma dor que vai passar.

Minha mãe é detetive. Sempre sabe o que eu sinto. Cada pedaço de mim ela conhece. Nunca erra. Eu nego, mudo de assunto, e ela até deixa passar. Mas seus olhos mostram que ela continua preocupada, pensativa, e mesmo sem exigir resposta, ela dá um jeitinho de dizer que tudo vai ficar bem.

Quando eu era ainda uma criança, ela me parecia tão diferente. Na verdade, eu é que não entendia que todas as cobranças, brigas, serviam só pra me educar. Ela gritava as vezes e minhas pernas tremiam. Quantas vezes eu corri. Tantas outras discuti. Talvez seja hora de pedir perdão. Mamãe, me desculpe, talvez eu não tenha sido a melhor das filhas. Hoje só posso dizer que vou tentar ser menos intempestiva. Bom, acho que você sabe que eu tento sempre não é?

Minha mãe é super herói. Teve quatro filhos, criou os quatro. Lembro bem das inúmeras vezes que saía cedo, correndo. Seus passos eram ligeiros e o horário ela sempre cumpria. Voltava ao meio dia e ainda posso sentir o cheiro do feijão que ela fazia. Distribuía ordens – que raras vezes eram cumpridas, mas sempre éramos perdoados por isso – e saía novamente apressada. No fim da tarde ela voltava, limpava tudo, lavava, passava. Nos fazia, a mim e meus irmãos, completar os deveres. Na hora do banho, ela fiscalizava o tempo, mais de quinze minutos e era hora de sair, e se não saíssemos, ela desligava o relógio. A água ficava fria e era tão engraçado. Ah! Minha mãe sempre tão econômica. Mas tão real. Pelo menos aprendi o valor da conta de luz e quão importante é economizar água. Depois do banho, íamos pra cama. E lá ia ela nos dar um beijo de boa noite. Eram beijos doces, tão doces quanto os potes de mel que sempre estavam sobre a mesa no café da manhã.

Não lembro de ter sentido frio em nenhum inverno enquanto dormia. Talvez porque ela sempre estivesse lá velando nosso sono. Lembro, vagamente, de ouvir seus passos em algumas madrugadas geladas e sentir o peso das cobertas jogadas sobre mim.

Minha mãe tem uma calculadora mental. Ela consegue fazer com que seu salário sustente a todos. E olha, isso vem de longe. Nunca vi tão pouco fazer tanto. Sempre fez o que pôde. E ela sempre pôde tudo que nos era necessário, por mais que quiséssemos mais, ela sabia do que realmente precisávamos. E amor, o mais importante, sobrava.

Minha mãe nunca foi de falar muito, mas sempre falava o que precisávamos ouvir. Ainda hoje é assim. Talvez hoje seja um pouco mais difícil, pois adultos tem a péssima mania de pensar que sabem tudo. Mas os pais sempre sabem mais. E uma mãe, sempre é capaz de amar mais. Então, tenho que confessar: por mais que não pareça estou a te ouvir cada vez mais mamãe!

Minha mãe é hiperativa. Ela anda tanto que cansa só de olhar. Consegue fazer tudo ao mesmo tempo e não esquece de nada. Ela fala que aprendeu a ser assim porque sempre teve que cuidar da casa, dos irmãos. Começou a trabalhar cedo e não tinha tempo a perder, pois tinha muitas atividades. Sua energia é tanta que tenho até inveja. Quem dera eu poder fazer tantas coisas e ainda sorrir como ela faz. Às vezes ela não sorri. Mas a vida também nem sempre age como queremos e as desilusões acontecem. É assim com todo mundo. Não queria que fosse assim com a minha mãe. Mas é. E não importa o que aconteça, a energia dela continua em alta. Talvez seja o jeito dela de resistir à vida, que já não é tão fácil como um dia foi.

Minha mãe, só minha mãe, sabe me curar. É a médica oficial do meu coração. É ela que me dá colo. Que me beija a face. Que mesmo tímida faz com que eu me sinta tão amada. Minha mãe é única. Sem ela talvez eu não tivesse aprendido a gostar tanto de palavras. Minha mãe é professora, não só dos alunos da escola, mas professora da minha vida. Ela me ensinou a ser humilde, a receber as pessoas sorrindo, a respeitar meus amigos. Ensinou que nada vem sem trabalho, e que a união entre nossa família sempre nos fez fortes, mesmo que uma peça se perca pelo caminho.

Minha mãe tem o dom da vida. Ela exala luz. Tem o conhecimento do meu espírito. Do espírito da nossa família. É por ela que nos encontramos um domingo ou outro e rimos do nosso passado. Lembramos das nossas travessuras. É por ela que nos abraçamos pra tirar foto. É por ela, e só por ela, que estamos sempre juntos, mesmo quando distantes. Minha mãe é tão grande em alma, que nos fez protetores uns dos outros, que nos fez fortes mesmo quando parecemos cair. Ela nos fez, e nos faz, dia após dia, a acreditar que podemos sempre mais.

Minha mãe tem em si todo o significado da palavra mãe. Carinho, coragem, amor, proteção. Mas para mim, minha mãe é muito mais do que isso. Minha mãe é a minha mãe. A pessoa que me abraça e faz qualquer problema desaparecer.

Minha mãe, sem dúvida, é a melhor mãe do mundo!

 

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Foi

Um dia ele chegou

Lúcido, jovem, sorria

O sol era quente

A lua era clara

Os dias passaram

As noites caíram

Dias, noites, vidas

Idas e vindas vieram e foram

Em cores, tormentas

Ruas, erradas, tão certas

Destinos que erram

Vontades que passam

Saudades que ficam

Verdades que morrem

Sonhos que dormem

E assim, sem fim

A vida vai

Ele mudou, cresceu

Rosto que foi

É lembrança tão triste

Ou felicidade com abismo

Do que foi e já não é

 

sábado, 2 de maio de 2009

Rumo

eu quero um rumo pra mim
não precisa ser o certo pra sempre
só precisa ser o certo agora
pois meu agora só choca
eu corro e busco e quero
um rumo tão certo
que seja perto
e olho, pra cima, pra frente
pra trás, pra baixo
não quero ser o certo
mas o correto
não sei pra onde ir
mas eu vou
quando vou chegar é mistério
mas e daí
eu vou
pra frente
tão rente aquela luz
pequena, única
na escuridão
ah que rumo
que não vem
ou vem, e eu perco?