Há um lugar
no mundo reservado para cada pessoa? Não me refiro ao lugar espaço físico, mas
lugar do tipo que acalma, que afaga nosso ego, que alegra nossos dias e faz
sorrir os minutos. Há como ser inteiramente normal sem parecer louco? Há como
gostar de poesia hoje e crônica amanhã? Há como querer o silêncio numa tarde de
sol e o barulho numa noite de tempestade?
Quero meu
lugar no mundo. E às vezes acho que o tenho, mas ele logo se esvai por entre
meus dedos. Ou foge no meio do texto. Ou simplesmente pega um ônibus. Outras
vezes eu pensei ter encontrado. E então, a vida vai seguindo, pessoas vão
surgindo e sumindo na mesma velocidade do alarme do meio-dia*, aquele que toca
no centro da cidade e faz todos correrem para o almoço quando mal engolem o
tempo que perdem enquanto se empurram em ruas tão cheias de gente e vazias de
sonhos.
Faz tempo que
tento entender minha missão nesse mundo. É, essa coisa de que não viemos por
acaso e que nada do que foi volta e será como antes, como música que se choca
com o transe da realidade tão brusca que nos acorda todas as manhãs. Seria
mesmo uma missão ou apenas me falta conexão com o caos dessa vida tão pouco
vivida? Ou será que eu vivo e quem perde é quem não me toca os dias?
Ah! Que falta
me faz ter um lugar em sombras de árvores que nem existem no meu bairro para
que eu possa entender os versos que escrevo. Nem ao menos entendo se há um
mundo onde eu exista de verdade. E talvez o que me falte seja a ira do som do
silêncio, me mostrando que nada há se não for criado. Ou que a vida real é
apenas um reflexo do que sinto, ou não sinta. E que nada é uma ilusão até que
se prove o contrário. E que talvez eu só precise de um espírito como o meu, que
não se encaixa em nada mas que vive tudo, mesmo sem viver.
*Em Lages, a sirene da Clube, como é conhecida, toca quatro vezes ao dia, uma delas é no horário do almoço, e boa parte da cidade consegue ouvi-lo o e o segue como indicativo do final do expediente.
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