domingo, 5 de agosto de 2012

Sobre o mundo que não tenho (ou tenho)


Há um lugar no mundo reservado para cada pessoa? Não me refiro ao lugar espaço físico, mas lugar do tipo que acalma, que afaga nosso ego, que alegra nossos dias e faz sorrir os minutos. Há como ser inteiramente normal sem parecer louco? Há como gostar de poesia hoje e crônica amanhã? Há como querer o silêncio numa tarde de sol e o barulho numa noite de tempestade?
Quero meu lugar no mundo. E às vezes acho que o tenho, mas ele logo se esvai por entre meus dedos. Ou foge no meio do texto. Ou simplesmente pega um ônibus. Outras vezes eu pensei ter encontrado. E então, a vida vai seguindo, pessoas vão surgindo e sumindo na mesma velocidade do alarme do meio-dia*, aquele que toca no centro da cidade e faz todos correrem para o almoço quando mal engolem o tempo que perdem enquanto se empurram em ruas tão cheias de gente e vazias de sonhos.
Faz tempo que tento entender minha missão nesse mundo. É, essa coisa de que não viemos por acaso e que nada do que foi volta e será como antes, como música que se choca com o transe da realidade tão brusca que nos acorda todas as manhãs. Seria mesmo uma missão ou apenas me falta conexão com o caos dessa vida tão pouco vivida? Ou será que eu vivo e quem perde é quem não me toca os dias?
Ah! Que falta me faz ter um lugar em sombras de árvores que nem existem no meu bairro para que eu possa entender os versos que escrevo. Nem ao menos entendo se há um mundo onde eu exista de verdade. E talvez o que me falte seja a ira do som do silêncio, me mostrando que nada há se não for criado. Ou que a vida real é apenas um reflexo do que sinto, ou não sinta. E que nada é uma ilusão até que se prove o contrário. E que talvez eu só precise de um espírito como o meu, que não se encaixa em nada mas que vive tudo, mesmo sem viver.


*Em Lages, a sirene da Clube, como é conhecida, toca quatro vezes ao dia, uma delas é no horário do almoço, e boa parte da cidade consegue ouvi-lo o e o segue como indicativo do final do expediente.

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