segunda-feira, 17 de maio de 2010

Soneto de um coração cansado


Quem dera poder silenciar meus pensamentos
Transportar aos horizontes dessas nuvens sombrias
As belas tardes de sol dos idos tempos de sorrisos
Perder os detalhes do seu semblante apaixonado

Poderia eu tentar inverter os pretéritos momentos
Talvez então as horas exaustas de vozes insones
Fariam a viagem entre uma vida e outra velozmente
Derramando pelo caminho aqueles âmagos desejos

E assim, calmamente deixaríamos de ser
Focos perdidos por entre os dedos quentes
Sem as frases caladas das miragens

Os caminhos tornar-se-iam apenas estradas
E no negro da noite veríamos somente estrelas
Pois o amor estaria desvencilhado de nós

domingo, 16 de maio de 2010

Sede

A água cai no quintal
Umedece os prazeres [de domingo]
O avesso impensado
Penso em presente

Perdi em espaço febril
Há deserto aqui [e longe]
Fostes ao léu
Vestido com minha pele

Razão em areia reversa
O sol infestado [ou calmante]
Comunga entre versos
Promessas afoitas

Atmosféricas fontes
Uma brisa faiscante [acelera e]
Entrega os dizeres
Das verdades de abril

Escorrem paredes
Em gotas vis [de escolhas]
Saudade que afaga
A aridez molhada

Estalos

A chuva que bate
Na janela do espírito
Alerta os delírios
Da noite invisível

Vultos vieram
Sombras passaram
Sentidos chegaram
Sombrias escadas

Ouvi os afagos
Dos nortes pensados
A descida do corpo
E os anjos no alto

Curvam-se as luzes
O som vem em ecos
Vento que leva
Murmúrios afogados

Pedido em uma noite qualquer

Quero te ver
Agora
Agora?

Espero um sinal
                    [dos teus olhos]
Encontro um farol
                    [com nossos sonhos]

Preciso te ter
Ontem
Ontem?

Arrisco um sorriso
                    [em lábios perdidos]
Insisto no abismo
                    [das tuas mãos]

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Leio


Tenho prazer em te ler.

Te leio em lábios de sol
Nas essências de nuvens

Leio-te em névoas frias
Nas noites tontas

Te leio em partes de dias
Nas frases soltas da lua

Leio-te em quereres dispersos
Nas vagas fontes ocultas

Tuas palavras estão em oásis
Nas barcas em becos
Em raízes de veias

Tuas letras estão em prazeres
Nos paradoxos incompletos
Das vitrines impostas

Te leio aqui em pele e pêlos
Em versos de sons
Em cores negras

Leio-te enfim pelo mundo
Em ruas de nada
Em cercas mortas

Tenho prazer em te ler
Nas nuances ou nos olhos baixos
Nas curvas ou nas longas retas
És como um universo de poemas
Estás aqui, íntimo assim.
Te lendo, leio a mim.

Tormento

Teus atos me tocam.
Cada ato. Um toque.
Toque de seda em abraços
Toque de mártir em aspereza.
Louco infinito de vozes
Dizeres insones de enganos
Toda tua luz são raios
Destino torpe inconformado
Infames sentimentos
Inquietos desejos
De sono, de morte, de vida
De voracidade, identidade
Tu tocas meu espírito
Atormentas meu corpo
E cobre-me de sonhos.

sábado, 8 de maio de 2010

Breve conto de amor

Durante o almoço o assunto foi poesia. Ela contando suas peripécias com as palavras. Ele sorrindo a olhava. E mesmo que pouco entendesse sobre poesia, muito sabia sobre ela. Por isso, a sua frente ele via, uma mulher tão fascinada que se tornara fascinante.
Enquanto ela falava com empolgação sobre versos, rimas, contos e crônicas, o que ele ouvia era a música de uma voz feliz. Ele então se sentia também feliz, pois seu amor era singelo e real. Ele a amava. Ela amava poesia. A ele também.
E enquanto seguiam para casa, ela ainda cantava, contava. Contava o conto “A Galinha” daquela que ela chamava de ‘intensa Clarice’, assim como também se dizia. Talvez ele nem soubesse da galinha, do conto, da rua aonde iam. Mas dela, ele sabia.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Infortúnio

A vidraça molhada.
Lá fora a chuva umedecia tudo que tocava.
Natureza tão bela, mas não pra ela
Que tinha o rosto ferido.

Os olhos cor de mel
Perdiam-se no vermelho da dor.
E as lágrimas evidenciavam
Cada segundo de desamor.

Ela estava perdendo-se dentro de si
Em saudade, até mesmo em miragens

Quando as pálpebras se apertavam
O flagelo era intenso
Tão intenso que nada via
Nem a chuva que caía
Nem o rosto refletido
Desolado, na vidraça.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Hiperativa

Estou hiperativa por dentro
Um atropelo de coisas
Sentimentos tontos
Odeio e amo
Quero e não quero
Digo e não digo
Esqueço e lembro
Vendaval de emoções
Verdades, mentiras
Desejos, sossegos
Loucura efêmera
Explosão de raios
Torturas reais
Irreais dores
Voltagem errada
Insólita veracidade
Trêmulas mãos
No peito insano
Desassossegos afáveis
Não poupo palavras
Não vejo finais
E lá se vai, mais um poema

Um pouco de mim (parte 2)

Sou facilmente irritável. Não gosto de hipocrisia. Nem de indiferença. Me deixe falando sozinha e consiga uma briga. Julgue-me e conseguirá uma quase inimiga.
Não, não sou modelo de perfeição. Apenas sou humana e uso desse direito adquirido há vinte e poucos anos (convenhamos, minha idade não vem ao caso agora) para definir minha personalidade da maneira que eu escolher. E acredito firmemente no poder da escolha. Não importa como ela aconteça, importa o que ela causa. E tudo isso, escolha, causa e efeitos, são apenas da propriedade de cada um. Julgamentos não são bem-vindos no meu espaço. Por isso eu tento, incansavelmente não cometer esse, que considero um erro medíocre.
Sou irritável. Sou impaciente e extremamente exigente. Mas há compensações. Sei me desculpar, sei agradecer. Adoro ouvir meus amigos. Encanto-me com atitudes de paz. E se grito com quem eu amo, por dentro eu choro. Não me peça pra dar uma notícia ruim, isso me faz sofrer. E se eu vejo lágrimas, fico em choque. Entristece-me a intolerância, a injustiça e a dor. Mas o amor me faz sorrir.
Se me sinto vulnerável procuro cantos. Se me sinto forte, luto até não me restarem mais forças. Defendo a liberdade de expressão, e a liberdade de usar a liberdade. Me angustiam meus erros. O orgulho me desequilibra, mas equilibra uma parte do meu ego. E se me perco em algum caminho, começo a me procurar pela alma...

Pressa

Sim. Impaciente.
Não tenho sossego
Não me desapego
Apenas enfatizo
De improviso eu digo
Se não aviso
Não cobro
Mas eu vivo
Não interfiro
Não ignoro
Eu brigo
Me olhe, me ouça
Me responda
Só então
Se vá.

Sei lá, não sei

Sei não, mas acho que espero em vão
É assim um sei lá com um não sei
Uma mistura de vozes vazias
Que me entorta as vias
Um sei lá que me tira a paz
Um não sei que me deixa voraz
Sem paz no peito  [grito]  
Voraz pelo leito    [deito]
E se me sinto sair
Desse corpo que aqui tenho
Fico a me perguntar
Se vou, ou se venho
Para a vida real
Ou para o sonho que almejo

terça-feira, 4 de maio de 2010

Luzes

Era uma noite nublada
A lua ensaiava presença
Assim com o céu pálido
O tempo era só companhia
E enquanto o sono não vinha
Havia uma luz esbranquiçada
Trazendo memórias de flores
Do gramado úmido logo abaixo
Em olhos escuros brilhantes
Via desejos possíveis
Em palavras ofegantes havia
Vontades de próximas horas
Em mãos estavam as letras
Sentidos pulsantes de dentro
Nas cores noturnas se via
Um futuro de completo neon
O movimento cessava em segundos
Se os lábios contassem com beijos
A saudade permanece nos anos
No tanque que embriagava
Que conta uma história passada
Viva quando os olhos se fecham
No sono que sonha com o eterno

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Um pouco de mim

Houve um tempo em que eu buscava me encontrar. E tenho certeza, nunca fui a única. Eu queria entender essa loucura que há dentro de mim. Entender os sentimentos de medo, euforia, saudade, desejo, incapacidade. Eu precisava entender. Pelo menos eu achava que precisava. Hoje eu ainda me pego tentando entender. Mas sou mais conformada. Não com meus defeitos, mas comigo mesma. Eu sou assim, impulsiva, sensível, impetuosa, frágil... Sou opostos. Eu sou assim. E enquanto eu tentava entender, minha vida foi passando. E algo eu tinha que aprender. Então, aprendi a me aceitar.
Aceito as minhas deficiências. Não sou perfeita.
Aceito as minhas negligências. Não sou perfeita.
Não sou perfeita, não pretendo ser. Mas posso ser melhor.
Posso ser uma melhor amiga, uma melhor amante, uma melhor colega de trabalho. Eu posso ser melhor com as pessoas. Ser melhor comigo.
Por muito tempo eu quis me encontrar. Hoje eu sei que sempre estive aqui, comigo. Sei que dentro de mim eu tenho todas as respostas e não preciso que ninguém me diga o que fazer. Se tenho culpas, elas são minhas e só a mim é que devo explicações. Se eu erro, eu terei que arcar com as conseqüências, pois ninguém pode fazer isso por mim.
Assim é a vida. Assim são as pessoas.
Ainda estou aprendendo, confesso. Mas cada dia mais eu sei que a pessoa mais importante da minha vida sou eu. E que se eu não fizer nada por mim, ninguém poderá fazer, por mais que eu esteja rodeada de pessoas que me amam e querem meu bem. O nosso amor próprio pode mais do que qualquer amor.
Aprendi a aceitar minhas loucuras e minhas vontades. Aprendi que sem elas eu não sou eu. E que cada característica que eu tenho faz de mim essa pessoa confusa, complexa, mas que tem muito amor pra dar, que se preocupa com as pessoas, que dá o melhor de si e que fica exultante apenas escrevendo um poema.
E se existir alguém que não possa me amar do jeito que eu sou. Esse alguém não serve pra mim. Nunca será meu príncipe encantado e nem fará planos comigo. Não será meu amigo, nem me verá perder ou vencer.
Só quero perto de mim quem me aceita. E sei que tenho perto de mim pessoas assim. Podem ser poucas, ou não, depende do ponto de vista. Mas são as pessoas mais importantes da minha vida, na minha vida e, que serão parte de tudo que eu viver. Mesmo que eu viva as piores dores, os melhores amores e as mais lindas vitórias. Eu terei comigo todos aqueles que realmente importam, e é isso que eu quero pra mim.
Em cada poema, em cada texto, em cada palavra que eu coloco aqui, sei exatamente quem são aqueles que sentem-se vitoriosos comigo. E isso, não tem preço. Não haverá nenhum livro capaz de explicar, nem tampouco quem sente como eu saberá decifrar.
O que eu quero pra mim, são apenas bons amigos, bons momentos, e muitas palavras... pois assim estarei sempre me vendo como eu sou...

Eu queria te fazer um poema

Eu queria te fazer um poema
Nem muito curto, nem tão longo
Mas que nele coubessem todas as minhas vontades
E que as palavras pudessem mostrar a ti
Todos os caminhos que levam a mim

Eu queria te fazer um poema
Nem tão complicado, nem tão fácil
Mas que explicasse com habilidade todas as minhas saudades
E que pudesse exprimir num só verso
Como é esse meu amor tão intenso por ti

Eu queria te fazer um poema
Nem tão brusco, nem tão frágil
Mas que nele eu pudesse contar como são doces as suas mãos
E que nos seus beijos eu vejo o sol
Pois todo o meu corpo ele toma

Sim, eu queria te fazer um poema
Assim do tamanho dos nossos desejos
Sem esquecer dos detalhes
Sem alterar os momentos
E em cada vírgula pôr um sentimento
Mas nesse poema, meu bem
Farei com que não haja ponto final