Em dias chuvosos, na solidão de um quarto pequeno, Albinoni
me faz pensar. É como se o violino me dissesse que sou diferente. Ele me fere
com suas palavras. Não gosto do que diz. Mas de certa forma me acalma. É como
se seus gritos melodiosos, afirmando que eu pertenço à solidão, mesmo rasgando
um pouco do meu peito, dissessem que fui a escolhida porque sou capaz de ver o
mundo com olhos sinceros, e que isso me faz só, mesmo que eu não queira.
Lá fora, eu sei, tenho amigos. Há pessoas que gostam do meu
sorriso, que ouvem minhas palavras e afagam o meu ego. Há aqueles que nunca
vejo e sempre me tocam com lembranças. E há outros que estão sempre perto, mas
tão distantes, mesmo que o sangue nos una. E assim, continuo só.
Eu suportaria melhor a solidão, se vez ou outra tivesse os
cabelos tocados. Sinto falta de mãos me aquecendo a pele. É minha parte mais
humana pedindo atenção. E tão humana que me dói a aorta. Nem todo o sangue que
me percorre entende o quanto minha alma grita. Seria difamatório gritar com as
cordas vocais. Mas o coração sangra, pra dentro. Como se sufocasse um pedaço
de meus dias, incessantemente. De gota em gota vou me perdendo de mim. Ou
então, é quando mais me encontro.
Busco respostas. E elas nem sempre vêm. São apenas
resquícios de sorte. Partes de mim que não encontro duas vezes. Apenas as
percebo e se vão. Deixam-me invadida de vazio. Espero então uma nova chance de
me ver outra vez, em partes que se perdem. O som é tão claro, e nem sempre
consigo compreender. É a loucura, que por momentos me dá afetos. Sorrio. São
sorrisos calados. Sorrir em público nem sempre é seguro.
Entendo. É preciso ter coragem pra ser só. Estou sendo
corajosa. E aqui nesse espaço apertado, me deixo sentir. E quando sinto, choro.
É preciso chorar no intervalo das batalhas. As lágrimas renovam a força. Mas
ainda tenho dúvidas sobre a minha força. Sinto-me fraca. E triste. E gargalho.
Isso me faz ter dúvidas sobre minha sanidade. Mas se toda loucura é perdoada,
como já balbuciaram por aí, talvez a minha também seja.
Não penso na morte. Minto. Eu penso, quando a dor me alcança.
Mas só quando a dor me alcança. O desespero é um buraco negro. Revolta-nos por
dentro, revira os pensamentos. O que mais nos perturba, nos tira dos planos da
vida real. Aquela que sempre renegamos. Mas da qual precisamos. A dor é batalha
perdida. Mas é boa. Cicatrizes retratam pedaços de nós que foram deixados no
tempo.
Não sei mais onde estou. Mas aqui está claro. Há música.
Há palavras descabidas. Há um corpo sedento. Há mãos ferozes. Uma mente que
luta. Olhos que reclamam. Boca que exclama. Choro que fere. Um sorriso
guardado. Livros não lidos. Histórias desconhecidas. Um coração sem caminho. Há
tudo e mais nada... solidão.
Um comentário:
Há uma grande quantidade de dor, de tristeza, parece que essa solidão indesejada, fere demais, macula fundo, escurece e cega, mas sobre tudo isso há um ar de esperança que me dá um alento de confiança de essa nuvem vai passar e teu coração sabe disso.
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