domingo, 5 de agosto de 2012

Drummond, reggae e a revolta da poesia numa tarde (de sol)


Jovens gostam mesmo de mostrar do que gostam. Rebeldes, normalmente sem causa, saem por aí jogando na cara da sociedade suas lutas, nem tão gloriosas assim, para serem compreendidos. Oh tempo bom... para alguns. Outro dia lá no Tanque, liamos poesia pra saciar nossas mentes e egos sob a sombra misturada com pedaços de sol. Era domingo e muita gente teve a mesma ideia. Não a de ler poesias, pois isso seria exigir demais de um povo que, em sua maioria (esmagadora, sejamos justos), não entende a grandiosidade dos versos. Enfim, a ideia que algumas dezenas de gentes tiveram foi a de passear no parque. Algo até bonito de ver, pois o dia estava realmente convidativo. Era um fim de tarde.
Lá pelas tantas, quando discorríamos sobre um texto de Drummond, um grupo de jovens, amontoados em um carro da moda, com roupas da moda, tênis de moda e celulares da moda, estacionou bem perto de onde estávamos.
- Ei, deixa a porta do carro aberta.
Disse uma mocinha, não mais de 18 anos, de franja enorme, um tipo bem comum hoje em dia. O pedido era para uma amiga, ou colega, afinal, atualmente isso se mistura muito, não se sabe mais o que é coleguismo, amizade...
A amiga abriu a porta. Mas isso ainda não satisfez o grupo.
- Levanta o som. E abre a porta de trás também.
Caramba, qual o problema dos jovens? Tão cedo e já com problemas de audição? Que porcaria é essa? E a nossa poesia já ia ficando abafada por conta do reggae lá da capital que saía sem dó daquelas caixas de som. Eu até gosto de reggae. Mas eu gosto muito mais de poesia. Contos e crônicas também me agradam. E o Drummond é bem melhor que o Dazaranha (mas eu até gosto de Dazaranha, um pouquinho). Será que eles sabem quem é Carlos Drummond de Andrade? Líamos também Fernando Pessoa. E nessa hora o coitado devia se revirar no túmulo. É um ultraje ser esmagado pelo som delituoso dos pequenos revoltosos. 
Lá pelas tantas, no meio de uma leitura quase gritada e ouvida em partes, uma frase destacou-se, e nem sei mais de quem era o texto. “Os incomodados que se retirem”. Ah vá! Sério mesmo?
Nós chegamos primeiro, cadê a educação desse povo menor de idade? Mudou a música. O sol foi embora. Mas a galerinha continuou lá, com os braços de fora e o respeito no porta-malas.
Então, como os nossos apelos em forma de olhares de insatisfação não resolveram, mudamos para o outro lado do parque. Já era noite. As luzes foram se acendendo. E ainda era possível ver a turma reunida. Mas eles logo se amontoaram de novo dentro do seu carro da moda, com suas roupas da moda, tênis de moda, reggae (ou seja lá o que for que estivessem ouvindo naquelas alturas) e foram embora. Fiquei pensando, será que bons modos vão estar na moda no próximo inverno? E será que os incomodados devem mesmo se retirar, mesmo quando chegam primeiro? É, talvez eu precise de mais poesia e outras brisas sob a sombra. E talvez o mundo precise de mais jovens com ouvidos bons.

2 comentários:

Romeu Pavan disse...

Quando chega sexta-feira e escuto passar um carro com som alto, meio ou totalmente rebaixado, emitindo aquele sertanejo invasivo e irritante, me dá uma espécie de angústia e sinto mais forte o cansaço mental.

Lá vem mais um final de semana, e me angustia o simples convite para almoçar e jantar na casa de um familiar, e ter de recolhir lixo pelos ouvidos durante a tal confraternização.

O pagode caiu um pouco de moda, felizmente. Mas os "piá pançudo" gostam de sertanejo, as patricinhas ouvem reggae, esta praga produzida aqui bem perto.

Anônimo disse...

A música deixou de ser música para se tornar barulho. A música agrada, o barulho irrita.

Eu fico muito irritado quando vejo pessoas que talvez nem tenham terminado o colegial chegarem em seus carrões, ou as vezes, nem tão carrões assim.. (Normalmente vejo carros caindo aos pedaços com som e rodas que valem mais que o próprio veículo), com um barulho ensurdecedor de pagode, sertanejo, reggae e isto que hoje chamam de rock.

Se acham os reis da cocada. Lá em frente a minha casa tem um produtor de barulho infernal aos finais de semana.

Em momentos fico observando e penso, que tipo de prazer uma pessoa assim deve sentir? Eu gosto de som alto, mas o suficiente para eu ouvir sem incomodar os outros.

Esqueceram daquela velha regra. "O meu direito termina, onde começa o do outro".

Mas hoje em dia é assim, pelo menos no Brasil, onde a mídia safada implanta mer... na cabeça do povão, que aplaude de pé e ainda gosta do cheiro.