quinta-feira, 29 de abril de 2010

Cinco Sentidos

Com penumbra tudo é claro
Para os olhos dos amantes
Entrelaçam-se sob a lua
E se vêem plenamente
Os olhos se tocam
Se entregam e se beijam

Nos suspiros cheios
A palavra apaga-se
Os murmúrios são de paz
Ouvem-se os sabores
Nus são os gemidos
Intensos os caminhos

O olfato interpreta
Hormônios se atropelam
O aroma é tão doce
É carente, tem saudade
Invasão e confusão
E o suor é a resposta

Descobertas desconexas
Detalhes tão perfeitos
Maciez e saliências
Na pele, em cabelos
O desejo busca as mãos
Nos toques há segredos

Com a língua vem o gosto
E o calor com ela vai
A boca vira fonte
De vontade insaciável
É sentido mais intenso
Entregam-se, por inteiro

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pequena

Ela era pequena
Anjo enquanto dormia
Menina, sorria com olhos de boneca
Sorrindo, abraçava com voz sapeca


Um dia ela cresceu
Enquanto dorme agora sonha
E quando não dorme, sonha
E sorri feito princesa


Adolescente, agora sente
E na cabeça sem ideias
Decepção, talvez não
Mal percebe, tudo está nela


Nesse mundo de ilusões
Imperfeições e novidades
Numa vida toda nova
O anjo ainda é sonho


A princesa ainda busca
As respostas inquietas
Emociona e se indaga
Se é grande, ou pequena



Para Natália.
Naty... pequena Naty... Lembra quando dormia ao meu lado? Tinha medo de sonhar sozinha. Então sonhávamos juntas e a noite passava rapidinho. Priminha linda, que deve estar maior do que eu, amo-te muito. Que continue a praticar seus sentimentos com as palavras. Beijinhos 

terça-feira, 27 de abril de 2010

Recomeço

Sou parte de calma
Pedaço de vidro
Sou cabeça em nocaute
Corpo em improviso

E nesse desejo de sorte
Na busca do sonho real
Degusto o sabor do sol
Invisível feito o doce

Inalcançável é a brisa
Do passado imperfeito
Lua jovem ainda há
É perfeito o seu descanso

Aurora do amanhã
Vem em passos de formiga
Nem esqueço da memória
Chega a hora, chega o dia


Conversa

Entre fatos insensatos
Sua voz brada verdades
A alma enforca o futuro
Dessa vida, talvez da próxima

Normais seríamos nós
Numa história irreal
O problema é a vida
Que é assim, hoje imortal

O amanhã nem tão incerto
Nem tão perto ou desigual
Faz o medo ser presente
Desfocado, afogado

Nessa falta de convívio
Em momentos sob o sol
Numa noite imperfeita
Fica o sonho, talvez não

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Poeta, poetisa

Hoje estou poeta
Poeta, incerta
Poetisa, imprecisa

Seria inequívoco pensar
Que poeta sabe pensar
Poeta sabe sentir
E sente como quem quis

Seria inexato pensar
Que poetisa sabe pensar
Poetisa sabe ouvir
E ouve como quem diz

Hoje estou poeta
Poeta, poetisa
Imprecisa
Incrédula
Incerta
Impiedosa

Segundas-feiras

Segundas-feiras virão vazias
Em cada ação, sem você
E nos minutos sóbrios [ou não]
Viverei o passado das segundas-feiras

Segundas-feiras virão feias
Não pelas chuvas frias de outono
O problema são as noites suas
Agora apenas noites de segundas-feiras

Segundas, terças e feriados
Domingos, sábados e quartas
Todos os dias
Agonia
Invade-me a saudade
Daquelas tardes [noites e manhãs]
Dos sabores inexatos de nós dois

Impossibilidade

Odeio certas coisas que sinto, e odeio não poder fazer nada. Esse sentimento de impotência diante de outros sentimentos é extremamente irritante. É como se eu visse as coisas acontecendo, sentisse as coisas acontecendo e não conseguisse evitar. Sentimentos, por vezes, são assim lancinantes. Obviamente, não sentir nada seria muito pior. Mas essa ineficiência diante de mim mesma é que me imprime essa irritação. Fico inquieta e insensata. Há em mim uma angústia que se cativa minuto após minuto e, que infelizmente, só me deixa ainda mais impotente. Então, como uma bola de neve, essa coisa vai aumentando dentro de mim.
A impossibilidade não me agrada, nem nunca foi algo que me deixasse tranquila. Não sou conformada (não com isso). Sou intensa. E isso faz de mim um perigo iminente. Não para os outros, mas para mim. Intensa assim, dentro dessa impossibilidade de controle, a força que me falta para mudar isso, me sobra em desordem emocional. Logo, eu falo sem pensar, ajo sem querer e arrisco sem poder.
Haveria equilíbrio perfeito se seguir conselhos fosse simples. Se viver dentro das normas fosse fácil. Nunca segui normas. Menos ainda ouvi conselhos. Bom, ouvir até ouvi, mas apenas isso. Mas, enquanto nenhuma norma ou conselho é passível de sentido dentro de mim, o que acontece é essa explosão.
Preciso de uma força incontável pra manter-me aqui, imóvel. E enquanto no meu interior os gritos gritam e os choros choram, por fora sou uma lady. Isso, por enquanto, só por enquanto. Até a próxima ebulição acabar virando uma eclosão. 

Explicação

E a vida não é tão infeliz
Nem a chuva escurece a minha brisa
E o frio, enrustido nas entranhas
Não afaga minhas dores

O que sinto me acorda em desalento
Mas o sonho não se apaga
E a morte do que tenho no meu ego
Pode ser uma promessa, só promessa

Se te tenho ou não vivo
Algo assim que não se sabe ao certo
Não importa para os ínfimos
O que vale é a verdade, nossa

E assim em conseqüente desventura
Das escolhas antepassadas, passadas
Vivemos só momentos, por momentos
E eu sigo, com você, sem você

sábado, 24 de abril de 2010

Quando a gente ama, simplesmente ama

E quanto ouvia essa música na voz de Oswaldo Montenegro, não pude deixar de refletir.
O amor é mesmo inexplicável.
Enquanto adolescente, eu fazia questão de falar que jamais homem nenhum me machucaria. Dizia que mandaria no meu coração, na minha sorte. Mal sabia eu, que não há como controlar o amor. De lá pra cá já me apaixonei algumas vezes. Já chorei, senti toda a dor de um coração partido. E em todas elas achei que não haveria mais espaço em mim pra um novo amor.
Engraçado é sempre pensar a mesma coisa, mesmo tendo todas as provas de que o coração sempre pode se recuperar e começar tudo outra vez. Claro que depois vem a dúvida, será que amei ou apenas estava apaixonada, já que uma das grandes dúvidas do mundo consiste em teorizar paixão e amor. A verdade é que não é fácil definir, principalmente quando se está sentindo. Enquanto não estamos “amando” é mais fácil. Se me pedissem pra palpitar, eu diria que a paixão é a explosão, o máximo de emoção, o máximo de tesão, é a loucura do amor... ....e o amor, esse é o que conquistamos com o tempo, com a convivência. É olhar pra alguém e saber que esse alguém será inesquecível.
É mesmo complicado definir. Os sentimentos são parecidos. Mas só o amor é constante. Nem explosivo, nem passível de esquecimento. Fica ali, dia após dia. E podem passar-se anos, quando tocamos a pessoa do amor, sabemos que a amamos, e não é preciso repetir. É uma certeza feliz, mesmo que triste por acasos da vida ou por escolhas em algum tempo. É uma certeza eterna, mesmo ínfima, mesmo que ninguém mais saiba. Só quem sente sabe.
Eu amo. Amo muito. E por mais que tenha frustrado meus planos adolescentes, não me arrependo. Eu vivo com intensidade cada detalhe do amor. E vivendo assim, descubro a cada dia algo mais incrível nesse sentimento. O amor é capaz de coisas tão inexplicáveis quanto a concretização da sua própria teoria. O meu amor é assim. Constante, único, vivo. Só eu sei como ele é. E todos os dias eu o percebo.
Ele está nos olhares perdidos, nas escritas do tempo, nos detalhes que nem se nota... eu sei quando ele sofre, eu sei quando ele se preocupa, eu sei quando ele me quer. E só eu sei. Isso é amor. O que faz duas pessoas se conhecerem tanto ao ponto de não precisarem de palavras...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Qualquer

Era uma noite qualquer
Quando teus olhos passaram por mim
Intrépidos nos goles, as vozes

Era assim, uma noite qualquer
Tuas mãos passavam por mim
Em copos, cheios, intensos

Era uma noite qualquer
E teus lábios audaciosos
Contavam sonhos, desejos

Era assim, uma noite qualquer
Embriaguez de luzes, insanas
Vorazes ficaram, palavras

Era uma noite qualquer
Num tempo qualquer
De um jeito qualquer
Um qualquer único
Meu e seu

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Danielle

Era uma noite como outra qualquer, eu na sala de aula, faculdade lotada como sempre. De repente, alguém me chama até a porta. Quando saio, vejo meu pai. Do lado dele uma menina, mais ou menos da minha idade, minha altura. E ele diz: “Essa é sua irmã Danielle”. Até hoje não sei descrever o que senti. Fiquei surpresa, em choque. Não pelo fato de ter uma irmã, pois isso eu sabia há algum tempo. Mas porque vê-la, assim, frente a frente, era algo totalmente novo, inesperado.
Depois daquele breve encontro, a vi mais uma ou duas vezes. E o destino encarregou-se de nos separar novamente. Talvez porque éramos jovens demais pra lidar com toda a situação. As coisas que nunca vivemos juntas, os motivos de nunca termos contato. Eu estava assustada. E penso que ela também.
Meu pai nunca foi o tipo de marido ideal pra minha mãe, pelo menos eu nunca achei que fosse. E quando jovem deve ter cometido tantos desatinos quanto os que meus irmãos homens cometem atualmente. Pouco sei sobre a história de Danielle e, conseqüentemente, a minha, já que nascemos no mesmo ano, ela apenas dois meses antes de mim. Refiro-me a história dos momentos em que fomos concebidas, sobre como fomos afastadas, sobre os motivos de nosso pai ter ficado com a minha mãe e não a mãe dela. Talvez eu não saiba direito porque nunca perguntei, e talvez nunca tenha perguntado de medo das respostas. Afinal, pai é pai. E eu amo muito o meu.
Mas então, como o destino é tinhoso, nada escapa ao seu alcance. Outro dia estava eu navegando na internet, quando resolvo abrir minha página do Orkut. Então, foi como se o mundo parasse a minha volta quando vi as atualizações de uma amiga. Fotos que ela havia acabado de postar tinham como uma das personagens a Danielle. Minha irmã que eu não tinha nenhum tipo de contato, mas sempre quis ter. Mais que depressa chamei minha amiga no msn, eu tremia. Digitar nunca foi tão difícil. Mas enfim, eu falei, contei pra ela e recebi um apoio imenso pra dar o primeiro passo. E foi o que fiz.
Hoje, nove de abril, está sendo um dia especial. Assim como tem sido cada um deles desde o dia que recebi a primeira resposta da minha irmã no Orkut. Hoje, já nos adicionamos no msn, já contamos coisas sobre nós e nossas famílias. Hoje já sei que o filho dela tem três anos, assim como o filho da minha outra irmã e que as duas quase se cruzaram na maternidade. Hoje eu sei que temos muito mais do que uma amiga tão legal quanto a Taina em comum. Temos sangue e muita vontade de fazer essa relação biológica e fraterna dar certo.
Sei que temos muito ainda pra conhecer. Sei que talvez nem tudo seja como imaginamos, e que podem haver muitas pedras no caminho. Mas eu estou muito feliz e isso me dá toda disposição necessária pra continuar. Não pretendo perder de novo a minha irmã, e nem o que uma relação tão importante quanto essa amizade que estamos construindo significa. Tenho consciência de que talvez para meus outros irmãos não seja tão fácil. Mas farei tudo que puder pra que um dia possamos nos reunir como uma família que somos. Sei que haverão pedras, tempestades e que não será fácil. Mas estou feliz mesmo assim. Estou empolgada e confiante.
Quem diz que relações humanas são fáceis, é porque nunca viveu os sentimentos e emoções que a vida dispõe com intensidade. Depois de mais de 10 anos, que foi quando eu a conheci, mudei muito. Ela mudou. Todos mudam. Mas pra alguns as coisas se encaixam mais rápido. Alguns aprendem mais rápido.
Durante esses 10 anos eu aprendi a ser paciente. Aprendi a amar minha família acima de tudo, e aceitar os defeitos de cada um deles. Aprendi a calar quando quero gritar, e a gritar quando todos só pensam em calar.
Aprendi que meu pai não é santo, muito menos herói e, que minha mãe, é tão sensível quanto a mãe dos meus amigos. Aprendi que meus irmãos são chatos e imprevisíveis, mas mesmo assim eu amo cada um deles de um jeito especial. Todos os dias eu aprendo. E ter calma pra aprender é o mais difícil, mas vale muito a pena. Agora estou tendo que aprender de novo, com mais uma pessoa que eu já amo mesmo conhecendo-a tão pouco. E talvez agora eu esteja aprendendo também o significado dos laços de sangue. Esses laços que unem pessoas que nunca se viram, que fazem com que defendamos essas pessoas. Eu sinto isso. Pra mim, mesmo longe, Danielle é igualzinha a meus outros irmãos, e farei por ela tudo que sou capaz de fazer por aqueles que foram criados comigo.
Não me importam os outros. Nem me importam os julgamentos e nada que venha de quem não entende meus/nossos sentimentos. Pra mim o que importa, é ser justa, é estar com aquelas pessoas que são importantes pra mim.
E como eu disse pra Danielle hoje, mesmo que tudo dê errado, ainda assim teremos amadurecido, aprendido e, principalmente, tentado.
Mas, temos mais 28 anos pela frente... espero que muito mais que isso.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Lageano macho grudado na Serpente

Juca estava trabalhando lá perto do Tanque quando resolveu sentar pra lagartear um pouco. De repente, deu um salto ao ouvir gritos. “Corram que a serpente tá viva, é o fim dos tempos, fujam!”.
O susto foi tamanho que o boné do Juca foi parar dentro do tanque, boiando. Antes que pudesse pensar, ele foi praticamente atropelado por uma multidão de gente, crianças chorando, mulheres gritando, homens apavorados. Quando finalmente alguém lhe deu atenção, veio a explicação pra todo aquele pavor:

- A serpente, home du céu, tá viva. Viram ela nadando ali na berinha. Óia, a bicha é tão baguá que tá fazendo até onda. Treche home, treche!

- Mas credo! Por acaso tenho cara de piá de bosta pra fugir de uma cobrinha d’água?
Juca sempre foi o típico lageano macho, então era óbvio que não ia deixar uma besteira dessa fazer ele ficar sem seu boné novinho sujando todo naquela água catinguenta.

Pegou um pedaço de galho e foi pra beira do Tanque. Enquanto isso pensava: “É só lavá mesmo, é cada um que me aparece. Quedêlhe a cobra? Tem cobra nenhuma aqui. Que onda o que, isso aí é coisa do vento sul, piriga chover diáqui um pouco.”
Lá pelas tantas, esgualepado já, e nada de conseguir pegar o boné, ele exclama: - Uh serpente do dianho, me pule!
E não é que ela pulou? Deu um salto, olhou bem pra cara do Juca, que arregalou o zóio, encarangou as pernas, tremeu na base, sartou de lado e falou:

- Mas porquiera mesmo que tá de cara feia, tá cum fome? E se largou a correr. Correu tanto que foi de suar mais que tampa de marmita.

Enquanto corria dava aquela negaciada pra trás, e a cobra vinha tinindo bem pertinho, chamando por ele: 

- Juca! Juca!

Foi aí que sentiu uma fraqueza nas pernas, uma canseira nos ombros.

- Juca, oh Juca véio! Que que deu que tá se batendo mais que bolacha em boca de véio? Senta aí nesse sol, dorme e fica variando das ideia. Acorda home du céu. Semo funcionário público, mas também não podemo exagerar, né!





Este conto faz parte de matéria alusiva ao Dia da Mentira, publicada na edição 834 do Jornal O Momento. A Lenda da Serpente do Tanque é uma das mais conhecidas de Lages e região.