quinta-feira, 29 de julho de 2010

Magia

Entre sonhos acordada
Ouvi estrelas lamuriantes
Diziam que as revoltas eram vida
Que os ares eram flores
Que as águas eram secas
E os lábios faíscantes

Entre horas da nevasca
Ouvi friagens refrescantes
Diziam que os nervos eram lares
Que as árvores eram negras
Que os mares eram terra
E os dedos arrogantes

Ouvi estrelas
Ouvi friagens
Ouvi agonias
Ouvi belezas

Tudo na noite
Tudo no dia
Ou só num floco
Da magia...

Temor

Senti teus gritos
Nos teus olhos o desalento
Senti teus anseios
Nos teus olhos o abatimento

Ouvi tuas angústias
Vivi tuas renúncias
Abracei teus tormentos
Encarnei teus momentos

Senti teus brados
Nos teus olhos o infinito
Senti teus recados
Nos teus olhos o ilícito

Ouvi tuas intrigas
Vivi tuas fadigas
Abracei teus sustentos
Encarnei teus eventos

Foi tudo num instante
As dores em sabores
As delícias em horrores
Agora está distante.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Gotas, pingos

nas gotas de orvalho
nos pingos de chuva
esboços de luz
reflexos em matizes

nas gotas de orvalho
nos pingos de chuva
espelhos inversos
imagens fulgazes

nas gotas de orvalho
a beleza do som
da viagem, da queda

nos pingos de chuva
os tropeços do sol
do ontem, do fim

Inspire-se

Talvez eu nunca tenha contado a vocês, mas adoro seriados. Dia desses, assistindo Greys Anatomy, cujo tema do episódio era o medo, um dos personagens, médico neurologista, ouviu de seu paciente: "Quando você sentir medo, inspire-se". O paciente estava com um sério problema de saúde, e só uma cirurgia poderia salvá-lo, mas esta era de alto risco, e talvez se ele sobrevivesse, pudesse perder os movimentos das pernas.
O médico, diante daquela situação, depois de muito pensar acabou aceitando o desafio e fez a cirurgia. Num dos momentos cruciais da operação, ele fez a escolha certa e salvou a vida de seu paciente, o deixando inteiro, com todos os movimentos. Ele inspirou-se diante do medo.
Mas não são apenas os médicos que inspiram-se diante do medo. Qualquer um de nós é capaz. Eu sinto medo, e não gosto de falar sobre isso. Confesso que nunca fui a pessoa mais segura no trabalho, nem me senti a melhor filha, a melhor irmã.
Hoje eu sei que não preciso ser a melhor em tudo, apenas naquilo que me dispus a fazer. Continuo sentindo medo. Mas estou tentando aprender com isso. O medo me apavora às vezes e acabo errando. E ainda não me acostumei a me perdoar. Demora um pouco.
Mas aos poucos estou aprendendo que todos erramos e precisamos conviver com isso. Todos temos defeitos, e isso não vai mudar, pode apenas melhorar.
Diante do medo, quero me inspirar. Quando penso que tudo está perdido, imagino o orgulho da minha mãe quando fala das minhas qualidades. Lembro do meu marido dizendo o quanto me ama.
Isso é alimento pra alma. E o corpo acaba sendo vencido. O medo acaba vencido. Fica ali, quieto, esperando uma próxima chance pra agir. E eu fico tentando deixá-lo preso. Mas se não conseguir, não tem problema...
...o medo pode ser inspirador.

Copo d'água

Era pra ser só mais uma noite de sono no meio da semana. Daquelas em que você vai se deitar pensando nos afazeres do outro dia. E tudo ia bem, até que um copo d'água deixou a noite mais "movimentada". Sofro de insônia, então a maioria das minhas noites é de sono leve, olhadas na janela, internet, televisão... Dessa vez, com o copo na mão e a habitual olhada na janela, acabei travando. Minhas pernas tremeram tanto que mal consegui me mexer. Mas isso durou apenas alguns segundos. Liguei pra PM assim que me dei conta que era o nosso carro (meu e de meu marido), que corria perigo. Ao lado dele, um cara, roupa preta, capacete. Olhava e apalpava o carro. Chegava perto do vidro. O observei por alguns minutos e acabamos por pedir ajuda aos vizinhos. Por fim, o cara fugiu sem deixar rastros. E eu me sentindo a pior pessoa do mundo por ter acordado a galera.
O pior disso tudo é saber que daqui a alguns dias, o cara pode voltar. Ou que ele está solto por aí roubando outros carros, analisando outras vítimas. E então me pergunto, que mundo é esse em que vivemos? Segurança não é algo simples. Dia desses um vizinho teve problemas no apartamento dele, tentaram arrombar a porta, me parece. É triste sairmos à noite e ficarmos tentando nos divertir mas pensando no carro que ficou na rua, na casa que está sozinha.
O que me tranquiliza, um pouco, é saber que ainda não sou mãe. Não tenho filhos saindo à noite, nem amigos que o fazem com frequência. Se eu tivesse, acho que sofreria muito mais com essa insônia, que me faz estar aqui agora contando isso pra vocês.
Moro numa cidade relativamente tranquila, é o que dizem. Mas cada vez mais vejo essa tranquilidade ir embora. Como foi para mim esta noite. Penso que lá fora há tanta maldade, que o melhor seria me trancar em casa só com as pessoas que gosto. Acontece que a vida não para. Temos que trabalhar, pagar contas, comer, dormir...
Eu bem que queria dormir. Mas dessa vez vai ser difícil...
Só me resta agradecer aos que nos deram essa força noturna, mesmo tendo, provavelmente, que acordar cedo, ouvir chefes, honrar compromissos.
Agora tenho medo de olhar pela janela, e acho que vou levar uma garrafa de água pro quarto... assim não sairei mais da cama... e não sentirei o mundo sair de baixo dos meus pés... 

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Delírio

pelos dedos se esvaem
as últimas gotas
das latentes saudades
que na eternidade ficarão

se a vida leva-te
não ouses acreditar
que a distância ficará
ela é infiel a ti

nada mais haverá
entre nossas mãos
mas para o futuro
tu me carregarás

e se te forço
a sumir nessa noite
será apenas nessa
em outra me terás