Estou
com medo de morrer
A
morte me assusta
Eu
sei, houve dias em que a tristeza me fez pedir por ela
Essa
certeza única e da qual não se pode fugir
Mas
hoje, especialmente, estou com muito medo de morrer
Não
quero morrer agora
Eu
sei que não se pode escolher
Mas
eu ainda gostaria de abraçar meu pai muitas vezes
Gosto
da segurança tão rara que ele me dá
E
fazer carinho nos cabelos da minha mãe
Ela
é tão forte que me faz sentir vergonha de desistir
Ainda
quero rir com meus sobrinhos e brigar com meus irmãos
Escrever
outros poemas e aprender crônicas
Ler
mais Clarice, Pessoa, e outros tantos poetas
Quero
ainda ouvir o mar de Miami
Ver
o Natal em Gramado
Reclamar
de palavras erradas
Gargalhar
com minhas amigas
Dançar
músicas que só eu consigo escutar
Há
tanto ainda que eu quero fazer
Não
posso morrer agora
E
sei lá, hoje o meu peito está apertado
Então
me peguei aqui, pensando nessas tolices
Que
me iluminam os dias
E
essa minha mania de querer tudo azul
Me
faz perder o foco no arco-íris inteiro
E
todas as músicas que ainda me farão sonhar?
Não
quero perdê-las
E
todas as chances que ainda devo desperdiçar?
Também
não quero perdê-las
Nem
quero perder os prazeres das lágrimas de saudade
Da
fome de novos poemas
Das
paixões em noites serenas
Das
tempestades que me fazem tremer
E
do sol que me faz sonhar
Não
quero perder um filme novo no cinema
Nem
as tardes tristes na cama
E
os goles de água na madrugada
O
frio dos meus pés no inverno
O
suor das poucas caminhadas de verão
Eu
não quero morrer
E
estou brava por pensar nisso hoje
Não
quero pensar
Mas
penso
E
o vento, tão leve lá fora
Não
tem força pra levar minha angústia
Deveria
eu desistir da viagem
Da
gente nova
Do
lugar novo
E
ficar com o velho, seguro
Mas
afinal, o que mesmo é seguro?
Não
se sabe
Alguém
talvez saiba
Eu
não
Só
sei, que hoje eu não quero morrer
Pra
quem devo pedir pra viver?
Pedir vai resolver?
Não sei
Mas na dúvida
Ei! Você aí! Me deixa viver?