sexta-feira, 9 de abril de 2010

Danielle

Era uma noite como outra qualquer, eu na sala de aula, faculdade lotada como sempre. De repente, alguém me chama até a porta. Quando saio, vejo meu pai. Do lado dele uma menina, mais ou menos da minha idade, minha altura. E ele diz: “Essa é sua irmã Danielle”. Até hoje não sei descrever o que senti. Fiquei surpresa, em choque. Não pelo fato de ter uma irmã, pois isso eu sabia há algum tempo. Mas porque vê-la, assim, frente a frente, era algo totalmente novo, inesperado.
Depois daquele breve encontro, a vi mais uma ou duas vezes. E o destino encarregou-se de nos separar novamente. Talvez porque éramos jovens demais pra lidar com toda a situação. As coisas que nunca vivemos juntas, os motivos de nunca termos contato. Eu estava assustada. E penso que ela também.
Meu pai nunca foi o tipo de marido ideal pra minha mãe, pelo menos eu nunca achei que fosse. E quando jovem deve ter cometido tantos desatinos quanto os que meus irmãos homens cometem atualmente. Pouco sei sobre a história de Danielle e, conseqüentemente, a minha, já que nascemos no mesmo ano, ela apenas dois meses antes de mim. Refiro-me a história dos momentos em que fomos concebidas, sobre como fomos afastadas, sobre os motivos de nosso pai ter ficado com a minha mãe e não a mãe dela. Talvez eu não saiba direito porque nunca perguntei, e talvez nunca tenha perguntado de medo das respostas. Afinal, pai é pai. E eu amo muito o meu.
Mas então, como o destino é tinhoso, nada escapa ao seu alcance. Outro dia estava eu navegando na internet, quando resolvo abrir minha página do Orkut. Então, foi como se o mundo parasse a minha volta quando vi as atualizações de uma amiga. Fotos que ela havia acabado de postar tinham como uma das personagens a Danielle. Minha irmã que eu não tinha nenhum tipo de contato, mas sempre quis ter. Mais que depressa chamei minha amiga no msn, eu tremia. Digitar nunca foi tão difícil. Mas enfim, eu falei, contei pra ela e recebi um apoio imenso pra dar o primeiro passo. E foi o que fiz.
Hoje, nove de abril, está sendo um dia especial. Assim como tem sido cada um deles desde o dia que recebi a primeira resposta da minha irmã no Orkut. Hoje, já nos adicionamos no msn, já contamos coisas sobre nós e nossas famílias. Hoje já sei que o filho dela tem três anos, assim como o filho da minha outra irmã e que as duas quase se cruzaram na maternidade. Hoje eu sei que temos muito mais do que uma amiga tão legal quanto a Taina em comum. Temos sangue e muita vontade de fazer essa relação biológica e fraterna dar certo.
Sei que temos muito ainda pra conhecer. Sei que talvez nem tudo seja como imaginamos, e que podem haver muitas pedras no caminho. Mas eu estou muito feliz e isso me dá toda disposição necessária pra continuar. Não pretendo perder de novo a minha irmã, e nem o que uma relação tão importante quanto essa amizade que estamos construindo significa. Tenho consciência de que talvez para meus outros irmãos não seja tão fácil. Mas farei tudo que puder pra que um dia possamos nos reunir como uma família que somos. Sei que haverão pedras, tempestades e que não será fácil. Mas estou feliz mesmo assim. Estou empolgada e confiante.
Quem diz que relações humanas são fáceis, é porque nunca viveu os sentimentos e emoções que a vida dispõe com intensidade. Depois de mais de 10 anos, que foi quando eu a conheci, mudei muito. Ela mudou. Todos mudam. Mas pra alguns as coisas se encaixam mais rápido. Alguns aprendem mais rápido.
Durante esses 10 anos eu aprendi a ser paciente. Aprendi a amar minha família acima de tudo, e aceitar os defeitos de cada um deles. Aprendi a calar quando quero gritar, e a gritar quando todos só pensam em calar.
Aprendi que meu pai não é santo, muito menos herói e, que minha mãe, é tão sensível quanto a mãe dos meus amigos. Aprendi que meus irmãos são chatos e imprevisíveis, mas mesmo assim eu amo cada um deles de um jeito especial. Todos os dias eu aprendo. E ter calma pra aprender é o mais difícil, mas vale muito a pena. Agora estou tendo que aprender de novo, com mais uma pessoa que eu já amo mesmo conhecendo-a tão pouco. E talvez agora eu esteja aprendendo também o significado dos laços de sangue. Esses laços que unem pessoas que nunca se viram, que fazem com que defendamos essas pessoas. Eu sinto isso. Pra mim, mesmo longe, Danielle é igualzinha a meus outros irmãos, e farei por ela tudo que sou capaz de fazer por aqueles que foram criados comigo.
Não me importam os outros. Nem me importam os julgamentos e nada que venha de quem não entende meus/nossos sentimentos. Pra mim o que importa, é ser justa, é estar com aquelas pessoas que são importantes pra mim.
E como eu disse pra Danielle hoje, mesmo que tudo dê errado, ainda assim teremos amadurecido, aprendido e, principalmente, tentado.
Mas, temos mais 28 anos pela frente... espero que muito mais que isso.

Um comentário:

Raiana Reis disse...

Oi Ciça! Essa tua história tão íntima é uma sensação de que compartilho em partes! Também tenho uma irmã, 4 meses mais velhas que eu, de uma aventura paterna que nos afastou por toda vida... Conheci essa minha irmã ainda criança e depois um reencontro já adultas, na infância as brincadeiras foram mais fáceis,foi mais estranho alguns anos atrás... No reencontro pelo Orkut, uma tentativa de diálogo, mas a mudez seguida... Quisera perguntar como é tê-lo como pai! Na chance de sairmos juntas, embora o dispor inicial de ambas, talvez a distancia continuasse pelo estranhamento de encontrar em uma festa a minha irmã, fruto por qual rotas mudaram e se desfizeram as bodas, registrada apenas no memorável álbum e me tornando filha de única foto paterna, estranha a sensação do laço forte sanguíneo que parecia nos distanciar por não acreditarmos talvez que era possível o desejo de irmã existir em uma estranha... fiquei amiga das primas paternas... mas até hoje desconheço a essência dessa que é minha irmã.

Beijos linda!