sábado, 9 de maio de 2009

Minha mãe - Margarida

Os anos passaram e mesmo assim não esqueço. Quando as dores me percorrem o corpo, é pra ela que quero correr. Minha mãe é assim, carinho contido, mas medido de um jeito que sinto e sempre acaba por me curar. Suas mãos parecem conter todos os medicamentos do mundo, seus olhos acalmam meu coração e então, a dor parece só mais uma dor que vai passar.

Minha mãe é detetive. Sempre sabe o que eu sinto. Cada pedaço de mim ela conhece. Nunca erra. Eu nego, mudo de assunto, e ela até deixa passar. Mas seus olhos mostram que ela continua preocupada, pensativa, e mesmo sem exigir resposta, ela dá um jeitinho de dizer que tudo vai ficar bem.

Quando eu era ainda uma criança, ela me parecia tão diferente. Na verdade, eu é que não entendia que todas as cobranças, brigas, serviam só pra me educar. Ela gritava as vezes e minhas pernas tremiam. Quantas vezes eu corri. Tantas outras discuti. Talvez seja hora de pedir perdão. Mamãe, me desculpe, talvez eu não tenha sido a melhor das filhas. Hoje só posso dizer que vou tentar ser menos intempestiva. Bom, acho que você sabe que eu tento sempre não é?

Minha mãe é super herói. Teve quatro filhos, criou os quatro. Lembro bem das inúmeras vezes que saía cedo, correndo. Seus passos eram ligeiros e o horário ela sempre cumpria. Voltava ao meio dia e ainda posso sentir o cheiro do feijão que ela fazia. Distribuía ordens – que raras vezes eram cumpridas, mas sempre éramos perdoados por isso – e saía novamente apressada. No fim da tarde ela voltava, limpava tudo, lavava, passava. Nos fazia, a mim e meus irmãos, completar os deveres. Na hora do banho, ela fiscalizava o tempo, mais de quinze minutos e era hora de sair, e se não saíssemos, ela desligava o relógio. A água ficava fria e era tão engraçado. Ah! Minha mãe sempre tão econômica. Mas tão real. Pelo menos aprendi o valor da conta de luz e quão importante é economizar água. Depois do banho, íamos pra cama. E lá ia ela nos dar um beijo de boa noite. Eram beijos doces, tão doces quanto os potes de mel que sempre estavam sobre a mesa no café da manhã.

Não lembro de ter sentido frio em nenhum inverno enquanto dormia. Talvez porque ela sempre estivesse lá velando nosso sono. Lembro, vagamente, de ouvir seus passos em algumas madrugadas geladas e sentir o peso das cobertas jogadas sobre mim.

Minha mãe tem uma calculadora mental. Ela consegue fazer com que seu salário sustente a todos. E olha, isso vem de longe. Nunca vi tão pouco fazer tanto. Sempre fez o que pôde. E ela sempre pôde tudo que nos era necessário, por mais que quiséssemos mais, ela sabia do que realmente precisávamos. E amor, o mais importante, sobrava.

Minha mãe nunca foi de falar muito, mas sempre falava o que precisávamos ouvir. Ainda hoje é assim. Talvez hoje seja um pouco mais difícil, pois adultos tem a péssima mania de pensar que sabem tudo. Mas os pais sempre sabem mais. E uma mãe, sempre é capaz de amar mais. Então, tenho que confessar: por mais que não pareça estou a te ouvir cada vez mais mamãe!

Minha mãe é hiperativa. Ela anda tanto que cansa só de olhar. Consegue fazer tudo ao mesmo tempo e não esquece de nada. Ela fala que aprendeu a ser assim porque sempre teve que cuidar da casa, dos irmãos. Começou a trabalhar cedo e não tinha tempo a perder, pois tinha muitas atividades. Sua energia é tanta que tenho até inveja. Quem dera eu poder fazer tantas coisas e ainda sorrir como ela faz. Às vezes ela não sorri. Mas a vida também nem sempre age como queremos e as desilusões acontecem. É assim com todo mundo. Não queria que fosse assim com a minha mãe. Mas é. E não importa o que aconteça, a energia dela continua em alta. Talvez seja o jeito dela de resistir à vida, que já não é tão fácil como um dia foi.

Minha mãe, só minha mãe, sabe me curar. É a médica oficial do meu coração. É ela que me dá colo. Que me beija a face. Que mesmo tímida faz com que eu me sinta tão amada. Minha mãe é única. Sem ela talvez eu não tivesse aprendido a gostar tanto de palavras. Minha mãe é professora, não só dos alunos da escola, mas professora da minha vida. Ela me ensinou a ser humilde, a receber as pessoas sorrindo, a respeitar meus amigos. Ensinou que nada vem sem trabalho, e que a união entre nossa família sempre nos fez fortes, mesmo que uma peça se perca pelo caminho.

Minha mãe tem o dom da vida. Ela exala luz. Tem o conhecimento do meu espírito. Do espírito da nossa família. É por ela que nos encontramos um domingo ou outro e rimos do nosso passado. Lembramos das nossas travessuras. É por ela que nos abraçamos pra tirar foto. É por ela, e só por ela, que estamos sempre juntos, mesmo quando distantes. Minha mãe é tão grande em alma, que nos fez protetores uns dos outros, que nos fez fortes mesmo quando parecemos cair. Ela nos fez, e nos faz, dia após dia, a acreditar que podemos sempre mais.

Minha mãe tem em si todo o significado da palavra mãe. Carinho, coragem, amor, proteção. Mas para mim, minha mãe é muito mais do que isso. Minha mãe é a minha mãe. A pessoa que me abraça e faz qualquer problema desaparecer.

Minha mãe, sem dúvida, é a melhor mãe do mundo!

 

Um comentário:

Lis disse...

Nossa, que bonito Ciça!
Linda homenagem. Desejando que o dia de vcs duas tenha sido maravilhoso.
Boa semana
Beijos