segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sete



Sete dias
Faz hoje
Uma semana
Sete beijos
Ou mais
Menos
Sete sonhos
Mais
Muito mais
Sete vidas
Revividas
Na mentira
Verdade
Sete horas
Dez
Sete toques
Música
Dança
Sete passos
Água
Sete 
Abismos
Sete gritos
Sete gemidos
Sete
Sem tapete
Sete vontades
Sete bebidas
Álcool
Rimas
Risos
Vermelho
Quente
Mãos
Chão
Sete anos
Vinte e sete dias
Enfim
No fim
Sete começos
Agora
Ontem
Amanhã
Sempre
Ausente
Presente
Sete paixões
Um
Amor

domingo, 26 de agosto de 2012

Eu te renego, solidão. Mas sei que ficas...


Em dias chuvosos, na solidão de um quarto pequeno, Albinoni me faz pensar. É como se o violino me dissesse que sou diferente. Ele me fere com suas palavras. Não gosto do que diz. Mas de certa forma me acalma. É como se seus gritos melodiosos, afirmando que eu pertenço à solidão, mesmo rasgando um pouco do meu peito, dissessem que fui a escolhida porque sou capaz de ver o mundo com olhos sinceros, e que isso me faz só, mesmo que eu não queira.
Lá fora, eu sei, tenho amigos. Há pessoas que gostam do meu sorriso, que ouvem minhas palavras e afagam o meu ego. Há aqueles que nunca vejo e sempre me tocam com lembranças. E há outros que estão sempre perto, mas tão distantes, mesmo que o sangue nos una. E assim, continuo só.
Eu suportaria melhor a solidão, se vez ou outra tivesse os cabelos tocados. Sinto falta de mãos me aquecendo a pele. É minha parte mais humana pedindo atenção. E tão humana que me dói a aorta. Nem todo o sangue que me percorre entende o quanto minha alma grita. Seria difamatório gritar com as cordas vocais. Mas o coração sangra, pra dentro. Como se sufocasse um pedaço de meus dias, incessantemente. De gota em gota vou me perdendo de mim. Ou então, é quando mais me encontro.
Busco respostas. E elas nem sempre vêm. São apenas resquícios de sorte. Partes de mim que não encontro duas vezes. Apenas as percebo e se vão. Deixam-me invadida de vazio. Espero então uma nova chance de me ver outra vez, em partes que se perdem. O som é tão claro, e nem sempre consigo compreender. É a loucura, que por momentos me dá afetos. Sorrio. São sorrisos calados. Sorrir em público nem sempre é seguro.
Entendo. É preciso ter coragem pra ser só. Estou sendo corajosa. E aqui nesse espaço apertado, me deixo sentir. E quando sinto, choro. É preciso chorar no intervalo das batalhas. As lágrimas renovam a força. Mas ainda tenho dúvidas sobre a minha força. Sinto-me fraca. E triste. E gargalho. Isso me faz ter dúvidas sobre minha sanidade. Mas se toda loucura é perdoada, como já balbuciaram por aí, talvez a minha também seja.
Não penso na morte. Minto. Eu penso, quando a dor me alcança. Mas só quando a dor me alcança. O desespero é um buraco negro. Revolta-nos por dentro, revira os pensamentos. O que mais nos perturba, nos tira dos planos da vida real. Aquela que sempre renegamos. Mas da qual precisamos. A dor é batalha perdida. Mas é boa. Cicatrizes retratam pedaços de nós que foram deixados no tempo.
Não sei mais onde estou. Mas aqui está claro. Há música. Há palavras descabidas. Há um corpo sedento. Há mãos ferozes. Uma mente que luta. Olhos que reclamam. Boca que exclama. Choro que fere. Um sorriso guardado. Livros não lidos. Histórias desconhecidas. Um coração sem caminho. Há tudo e mais nada... solidão.

sábado, 25 de agosto de 2012

Esperança


Foi como um sonho bom
Todo aquele gosto de verdade
O beijo sobre a grama
E na cama, pequena

Esperança está sumindo
Mas ainda fica, sempre
O tempo está passando
E tu ainda existe, sempre

Houve a noite no cinema
Um sorriso solto no meio da tarde
Faz tempo eu sei, meu bem
De olhos fechados, ontem

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Uma vez dentre tantas

era uma noite de luz
feita por relapsos do tempo
que passava ligeiro 
enquanto os olhos apenas paravam
no corpo um do outro
na mente que não se lia
mas se via cada centímetro
de sopro do pensamento
regado à saudade com presença
e à dança de tristeza
e o sol veio bem tarde
depois da neblina arredia
tarde demais para eles
que já não tocavam as luzes
de mãos dadas como antes
e cada beijo do passado
vive-se de pálpebras nuas
nus eram os sorrisos
em peles rebeldes no chão
com água e fora dela
afogadas pelo desespero
de voltar para uma vida
que nunca foi vivida
plenamente
aquele momento acabou
virou passado
e o que parece normal
apenas rasga o tempo
e joga ao canto
a intolerância que se quer
de uma vez
que já houve outras vezes

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Som

adorava música alta

tapava-lhe os ouvidos

dos ruídos do mundo

era o transporte para outros

lugares

tão raros

nem vivos eram

mas eram

sorriam

para seu espírito

cansado

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Poeto aos iguais

Poeta, poetisa, poetadora, poetadeira
Não sei quem sou
Mas gosto das palavras
Não me importo se entendem
Só preciso que sintam
Não poeto para os normais
Não cabem em meus versos os que não sabem ler
Por aqui só sobrevivem os insanos
Que como eu não sabem viver
Há vestígios de lucidez em minhas palavras
Mas são vistos somente em transes
Não perco tempo com o rebuscado
Só me interessam os rabiscos

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Infinito ali


Eu sempre quis ver o infinito
- Burra! - pensava, enquanto sonhava
Mas ainda assim, queria ver o infinito
E olhava, para longe, tentando vê-lo

Alcancei horizontes assim
Eram claros, viçosos, azuis
Sorri em alguns, eram belos
Sofri, toquei naqueles que cortavam

Era mesmo uma busca sacana
Não tinha nome, nem tempo
E a direção era pra qualquer verso
Mas eu ainda andava, de olhos abertos

Um dia o vento levantou meus cabelos
Minhas pálpebras se fecharam
- Morri - imaginei, tola.
Era apenas o infinito. Estava em mim.

Dois por aí

Cristina era menina-mulher. 
Ela sorria como o sol.
Não tinha malícia. De dia.
Formava erros e cantava. Em pensamento.

Philippe era moço da cidade.
Juntava teclas para formar pontos. 
Em contos via estrelas. No sonho.
Tinha calma. Com pressa.


Um dia o sorriso despudorado de Cristina clamou pela vergonha (pouca) de Philippe.
Talvez fosse dia. Não se sabe.
Ele chocou-se com a leveza daqueles olhos verdes.
Ela estava repleta de ira. Pequena.
Assim como seu corpo.


Meses depois era dele o sorriso. De dia. 
Sem malícia. Talvez com um pouco. Não sei.
E era dela o rubor. Na rede. 
Quando o sol não aquecia. Mas ele sim.
Ela era arte. E ele seu erro mais certo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Eu não quero morrer

Estou com medo de morrer
A morte me assusta
Eu sei, houve dias em que a tristeza me fez pedir por ela
Essa certeza única e da qual não se pode fugir
Mas hoje, especialmente, estou com muito medo de morrer
Não quero morrer agora
Eu sei que não se pode escolher
Mas eu ainda gostaria de abraçar meu pai muitas vezes
Gosto da segurança tão rara que ele me dá
E fazer carinho nos cabelos da minha mãe
Ela é tão forte que me faz sentir vergonha de desistir
Ainda quero rir com meus sobrinhos e brigar com meus irmãos
Escrever outros poemas e aprender crônicas
Ler mais Clarice, Pessoa, e outros tantos poetas
Quero ainda ouvir o mar de Miami
Ver o Natal em Gramado
Reclamar de palavras erradas
Gargalhar com minhas amigas
Dançar músicas que só eu consigo escutar
Há tanto ainda que eu quero fazer
Não posso morrer agora
E sei lá, hoje o meu peito está apertado
Então me peguei aqui, pensando nessas tolices
Que me iluminam os dias
E essa minha mania de querer tudo azul
Me faz perder o foco no arco-íris inteiro
E todas as músicas que ainda me farão sonhar?
Não quero perdê-las
E todas as chances que ainda devo desperdiçar?
Também não quero perdê-las
Nem quero perder os prazeres das lágrimas de saudade
Da fome de novos poemas
Das paixões em noites serenas
Das tempestades que me fazem tremer
E do sol que me faz sonhar
Não quero perder um filme novo no cinema
Nem as tardes tristes na cama
E os goles de água na madrugada
O frio dos meus pés no inverno
O suor das poucas caminhadas de verão
Eu não quero morrer
E estou brava por pensar nisso hoje
Não quero pensar
Mas penso
E o vento, tão leve lá fora
Não tem força pra levar minha angústia
Deveria eu desistir da viagem
Da gente nova
Do lugar novo
E ficar com o velho, seguro
Mas afinal, o que mesmo é seguro?
Não se sabe
Alguém talvez saiba
Eu não
Só sei, que hoje eu não quero morrer
Pra quem devo pedir pra viver?
Pedir vai resolver?
Não sei
Mas na dúvida
Ei! Você aí! Me deixa viver?

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sei, mas não quero saber

sei tanta coisa de você
sei que gosta de azul e camisetas
que gosta de cinema na cama
e numa sala vazia onde só tu existas

sei sobre teus medos
desses medos que afligem qualquer humano
sobre finanças e acidentes
e que não tem uma vida tão plena como gostaria

também sei que és metódico
que não tem paciência para a ignorância
que adora viajar às nuvens
e que gostaria de voltar no tempo

soube também sobre o Elton John
e sobre viagens a capitais
eu não estava lá de fato
mas me dissesses que estive o tempo todo

sei que leu Bukowski por uma janela
dessas por onde o sol não entra
e não entendeu quando eu disse que sabia
sobre ti mais do que gostaria

saberia também contar os dias
se fosse amiga dos números
e diria há quantas anda
os anos que perdeu com a distância

saberei também sobre o futuro
sobre seu berço e seu castigo
sobre suas bençãos e novas revoltas
e talvez, ainda que não queira, saberei sobre outros futuros

eu sei muito sobre você
sobre sua raiva das mentiras
sobre suas sinapses invasivas
e sobre as suas tardes de rebeldia

soube também sobre seus sonhos
sobre a felicidade nunca feita
já me contastes sobre minha presença em suas noites
e sei onde estou em seus dias

sei sobre as leituras nunca feitas
sobre voos ainda não alcançados
sei sobre Londres e Paris
e também sobre o fim que nunca houve

sei um pouco sobre seu sarcasmo
talvez mais do que gostaria
ou tão pouco que nem ouso enfrentar
mas sei que tocas sem ironias

sei outros tantos de você
até sei que pensas ser eu uma reencarnação
como se Clarice voltasse à Terra
uma lisonja que só tu poderias ditar

sei sobre a ficção que te desnivela
sobre Darth Vader e Hermione
sobre Eduardo Spohr e até sobre a cintura de Shakira
e nada disso me transforma, mas está aqui

sei coisas sobre você que outros também sabem, ou não
e penso de que me servem agora
se me fazem parte de ti
ou apenas é informação infértil

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Quereres


Estou te querendo
Desde aquele quase esbarrão quando não sabia quem eras
Estou te querendo e não tenho medo do nada
Tua boca é macia 
E eu gosto de bocas macias

Eu te quis por um instante 
Foi quando tu tocou de leve a minha mão e nem notou
Eu te quis e tu provou, tímido
Da minha vontade de pele tão quente
E minha pele ferveu

Eu ainda te quero
Tenho tempo pra te tocar cada resquício de sede
Eu ainda te quero a fazer meus delírios
Serão lidos então quando teu sotaque calar
E meu fôlego cansar

Eu ainda hei de querer-te
Enquanto houverem avenidas a separar nossos corpos
Eu ainda hei de querer-te de olhos cabisbaixos
Todo prosa a contar desatinos alcoolizados
E mesmo depois de teres bebido a mim

domingo, 5 de agosto de 2012

Drummond, reggae e a revolta da poesia numa tarde (de sol)


Jovens gostam mesmo de mostrar do que gostam. Rebeldes, normalmente sem causa, saem por aí jogando na cara da sociedade suas lutas, nem tão gloriosas assim, para serem compreendidos. Oh tempo bom... para alguns. Outro dia lá no Tanque, liamos poesia pra saciar nossas mentes e egos sob a sombra misturada com pedaços de sol. Era domingo e muita gente teve a mesma ideia. Não a de ler poesias, pois isso seria exigir demais de um povo que, em sua maioria (esmagadora, sejamos justos), não entende a grandiosidade dos versos. Enfim, a ideia que algumas dezenas de gentes tiveram foi a de passear no parque. Algo até bonito de ver, pois o dia estava realmente convidativo. Era um fim de tarde.
Lá pelas tantas, quando discorríamos sobre um texto de Drummond, um grupo de jovens, amontoados em um carro da moda, com roupas da moda, tênis de moda e celulares da moda, estacionou bem perto de onde estávamos.
- Ei, deixa a porta do carro aberta.
Disse uma mocinha, não mais de 18 anos, de franja enorme, um tipo bem comum hoje em dia. O pedido era para uma amiga, ou colega, afinal, atualmente isso se mistura muito, não se sabe mais o que é coleguismo, amizade...
A amiga abriu a porta. Mas isso ainda não satisfez o grupo.
- Levanta o som. E abre a porta de trás também.
Caramba, qual o problema dos jovens? Tão cedo e já com problemas de audição? Que porcaria é essa? E a nossa poesia já ia ficando abafada por conta do reggae lá da capital que saía sem dó daquelas caixas de som. Eu até gosto de reggae. Mas eu gosto muito mais de poesia. Contos e crônicas também me agradam. E o Drummond é bem melhor que o Dazaranha (mas eu até gosto de Dazaranha, um pouquinho). Será que eles sabem quem é Carlos Drummond de Andrade? Líamos também Fernando Pessoa. E nessa hora o coitado devia se revirar no túmulo. É um ultraje ser esmagado pelo som delituoso dos pequenos revoltosos. 
Lá pelas tantas, no meio de uma leitura quase gritada e ouvida em partes, uma frase destacou-se, e nem sei mais de quem era o texto. “Os incomodados que se retirem”. Ah vá! Sério mesmo?
Nós chegamos primeiro, cadê a educação desse povo menor de idade? Mudou a música. O sol foi embora. Mas a galerinha continuou lá, com os braços de fora e o respeito no porta-malas.
Então, como os nossos apelos em forma de olhares de insatisfação não resolveram, mudamos para o outro lado do parque. Já era noite. As luzes foram se acendendo. E ainda era possível ver a turma reunida. Mas eles logo se amontoaram de novo dentro do seu carro da moda, com suas roupas da moda, tênis de moda, reggae (ou seja lá o que for que estivessem ouvindo naquelas alturas) e foram embora. Fiquei pensando, será que bons modos vão estar na moda no próximo inverno? E será que os incomodados devem mesmo se retirar, mesmo quando chegam primeiro? É, talvez eu precise de mais poesia e outras brisas sob a sombra. E talvez o mundo precise de mais jovens com ouvidos bons.

Sacrifício

Talvez seja apenas só uma palavra. Talvez seja a mais árdua missão de nossas vidas. Talvez nem vida tenhamos enquanto houver sacrifício.
Partes de nós provavelmente serão felizes, em algum tempo e perto de outros amores. Serão amores diferentes. E essa certeza tão intensa de que nunca serão como o nosso amor, talvez seja prova mais consistente de que jamais seguiremos em frente como deveríamos. E a dúvida sobre se realmente deveríamos, devemos, nos mata a cada dia porque não se pode viver pela metade. Há uma parte de nós que não nos pertence, apenas vive em outro corpo, em outra mente, em outra atividade qualquer que realizemos enquanto o tempo passa despercebido. É mesmo uma palavra, que vem de um jeito que destrói e constrói a cada ano.
Seria apenas mais um passo dado para o lado errado, caso fôssemos apenas duas almas perdidas em momentos incertos. Mas não somos apenas dois, nem o momento é incerto. São passos escolhidos por forças que não nos pertencem. E não há nada disso que nos mude. Mas realmente não importa.
Seremos sempre dois em um. Estarei aí, em cada nova música que ouvir. E tu vive comigo em cada verso que descubro. Nossas vidas estarão sempre ligadas, mesmo que nunca unidas. 
Há em nós essa dor que amarga um pouquinho de nossos dias, tudo por culpa de uma saudade que nunca passa. Há um espaço vazio que não se preenche com nada mais do que nos faz bem, pois é um lugar onde só se chega através do amor que nunca se afastou de nós. É como uma senha que só existe em se dois olhares se encontrarem, e que ninguém mais terá, nunca, acesso, nem mesmo que vírus nos toquem e nos queiram devastar, invadir, possuir.
Não sei quanto ainda viveremos, nem se ao menos viveremos por nós dois, um para o outro. E a dúvida enrustida na certeza do nunca, devasta cada novo sonho de possibilidade. 
Enquanto isso, novas datas acontecem. E a sua memória como agenda histórica nos fará recordar cada uma delas em novos encontros, debaixo de árvores perdidas. Quando a brisa nos toca e nos leva a querer tocar também o ar um do outro. E vamos rir enquanto nos beijamos em pensamento. E quando seguirmos em direções contrárias, mais uma vez, derramaremos lágrimas que só escorrem para dentro. É uma força que nos derruba, para que possamos continuar erguidos, seguindo de um jeito que não queremos, não com a mesma vontade que temos quando nos olhamos.
Pode ser apenas uma palavra. Mas é mesmo um sacrifício.

Sobre o mundo que não tenho (ou tenho)


Há um lugar no mundo reservado para cada pessoa? Não me refiro ao lugar espaço físico, mas lugar do tipo que acalma, que afaga nosso ego, que alegra nossos dias e faz sorrir os minutos. Há como ser inteiramente normal sem parecer louco? Há como gostar de poesia hoje e crônica amanhã? Há como querer o silêncio numa tarde de sol e o barulho numa noite de tempestade?
Quero meu lugar no mundo. E às vezes acho que o tenho, mas ele logo se esvai por entre meus dedos. Ou foge no meio do texto. Ou simplesmente pega um ônibus. Outras vezes eu pensei ter encontrado. E então, a vida vai seguindo, pessoas vão surgindo e sumindo na mesma velocidade do alarme do meio-dia*, aquele que toca no centro da cidade e faz todos correrem para o almoço quando mal engolem o tempo que perdem enquanto se empurram em ruas tão cheias de gente e vazias de sonhos.
Faz tempo que tento entender minha missão nesse mundo. É, essa coisa de que não viemos por acaso e que nada do que foi volta e será como antes, como música que se choca com o transe da realidade tão brusca que nos acorda todas as manhãs. Seria mesmo uma missão ou apenas me falta conexão com o caos dessa vida tão pouco vivida? Ou será que eu vivo e quem perde é quem não me toca os dias?
Ah! Que falta me faz ter um lugar em sombras de árvores que nem existem no meu bairro para que eu possa entender os versos que escrevo. Nem ao menos entendo se há um mundo onde eu exista de verdade. E talvez o que me falte seja a ira do som do silêncio, me mostrando que nada há se não for criado. Ou que a vida real é apenas um reflexo do que sinto, ou não sinta. E que nada é uma ilusão até que se prove o contrário. E que talvez eu só precise de um espírito como o meu, que não se encaixa em nada mas que vive tudo, mesmo sem viver.


*Em Lages, a sirene da Clube, como é conhecida, toca quatro vezes ao dia, uma delas é no horário do almoço, e boa parte da cidade consegue ouvi-lo o e o segue como indicativo do final do expediente.

sábado, 4 de agosto de 2012

Literaturalmente


Imaginei que aprendi sobre as palavras
Elas vinham em torno de luzes
Piscavam, revoltavam meu corpo
Revoavam em torno do dorso
Reparei no detalhe do óculos que sumiu
No ritmo da música que não ouvi
Havia o reflexo dos versos dispersos
De nada e de tudo na retidão da penumbra
Houve outro pouco de sonho perdido
Ilusão ou tesão incontido, contido
Retido na relva, era mesmo relva, ou selva?
Ou seria aquele texto não lido na horizontal?
Talvez uma sombra apenasse a alegria das mãos
E a fina loucura dos dias que um dia chegarão
Ou das manhãs de vontades invisíveis, visíveis
A olhos nus de lentes, intermintentes
Revelam a nítida voz, irreal, tão real
Do que foi e não foi nunca mais, ah, mas vai
Haverá um talvez escondido no poema
Ou na lúdica canção de dormir
Que embala os desejos do corpo
E faz a alma inteira sentir, sorrir

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Sorria pra mim



Eu gosto de sorrisos. Parece óbvio, afinal quem não gosta de sorrisos? Mas há sim, quem não goste. São aqueles que não suportam a alegria alheia, que descontam suas frustrações naqueles que amam viver. Mas enfim, desses, nem é preciso falar. O que eu quero mesmo dizer, é que adoro sorrisos porque me fazem sorrir também. Gosto da alegria. Do bom humor. Gosto de quem me tira gargalhadas no meio do dia. De quem me surpreende. De quem ousa. Gosto de quem me faz acreditar no caráter. De quem me absorve a tristeza e me devolve alegria. Gosto da dignidade que admira e da admiração que faz o amor crescer. Adoro carinhos noturnos.  Recados perdidos. Saudades incontidas. Adoro encontro na rua e bebida com rock. Adoro quando o sol se põe e o sorriso aparece. Adoro quando a chuva aperta e o abraço também. Eu gosto mesmo é de sorrisos e todas essas coisas que fazem sorrir num dia nublado, num dia abafado, num dia que anoitece e na noite que amanhece. Eu gosto mesmo é de gente que sorri. E de gente que me faz sorrir.